
Nos últimos anos, o Espírito Santo tem enfrentado dificuldades na qualidade da pimenta-do-reino, devido ao método de secagem em secadores rotativos. 95% desses secadores são de calor direto, chamados de fogo direto. Para enfrentar este problema, a Associação Brasileira dos Exportadores de Pimenta e Especiarias (BSA) tem promovido ações de conscientização junto aos produtores, destacando a necessidade de mudança no método de secagem para garantir um produto seguro, padronizado e competitivo nos mercados internacionais.

No método utilizado pela maioria dos produtores, o calor é aplicado diretamente dentro do secador e junto vai a fumaça, que gera um resíduo químico chamado Antracnona, proibido na Europa e nos Estados Unidos. Como consequência, uma parcela significativa da pimenta produzida no ES está contaminada por esse resíduo, não acessando os principais mercados, informou o presidente da BSA, Frank Moro, destacando que o maior desafio do Estado hoje é a substituição do método de secagem.
Segundo Moro, grande parte dos pipericultores capixabas adotou uma metodologia semelhante à do café, porém, ao contrário da pimenta, o café está protegido pela casca (coco), o que dificulta a contaminação por resíduos químicos. Na pimenta, a fumaça é jogada diretamente no produto que chega à mesa do consumidor”, relatou o presidente.
Os mercados europeu e americano possuem padrões rigorosos, buscando produtos livres de resíduos químicos ou com níveis dentro dos limites toleráveis, incluindo a Antracnona. “Para atender a essas exigências, os produtores precisam adotar boas práticas, preferencialmente utilizando produtos biológicos na lavoura. Assim, teremos um produto apto a competir nos mercados mais exigentes”, pondera Moro.
Falta planejamento
A expansão de áreas produtivas e a falta de estrutura para secagem da nova demanda nas propriedades é outro problema enfrentado. O presidente da BSA explica que quando a pimenta é colhida, na maioria dos casos, os produtores não dão conta de secar na medida em que vão colhendo, armazenando em sacos por dias. Com isso, o fruto madura, entra no processo de fermentação, e começa a melar por estar muito maduro, soltando um líquido.
“Quando o fruto é colocado no secador, ao fazer o giro para secagem, forma-se uma casca ao redor da pimenta-do-reino, casca esta que vem do pó proveniente do atrito, resultando em um produto indesejável e não aceito no mercado internacional. O custo para tratar uma pimenta dessa é muito alto, por isso preferem devolver a carga. Tudo isso atrelado ao mau dimensionamento dos secadores nas propriedades”, alerta Moro.
O representante da BSA reforça que essa característica é tipicamente registrada no Espírito Santo e na Bahia. “Isso tem prejudicado a imagem do Brasil no cenário internacional, além de colocar em risco a devolução de mercadorias. No Pará, não temos registros desse problema”, frisou Frank Moro.
Como evitar o problema?
Pimentas molhadas ou que permanecem armazenadas em sacos por longos períodos antes da secagem tendem a desenvolver uma crosta externa nos grãos, indicativo de secagem inadequada e que pode comprometer a qualidade final do produto.
Para evitar esse problema, é fundamental adotar boas práticas de secagem, como espalhar bem a pimenta e garantir ventilação adequada antes do uso do secador. Além disso, evitar armazenar pimentas molhadas por longos períodos e realizar inspeções regulares na qualidade do produto antes da comercialização são medidas essenciais para assegurar a conformidade e a aceitação nos mercados internacionais.
Redação Campo Vivo