
Apesar das chuvas que caíram em algumas regiões do Espírito Santo nos últimos dias, a onda de calor excessivo tem preocupado cafeicultores capixabas quanto ao impacto nas plantas, o que influencia na qualidade da safra. As ferramentas de tecnologia avançada, como o monitoramento por sensores de umidade e temperatura, que permitem ajustes precisos em tempo real, são apontados como práticas agrícolas que podem ser adotadas pelo produtor para mitigar os efeitos do calor excessivo.
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, Henrique de Sá Paye, engenheiro agrônomo e CEO Soil Agro, explica a relação entre temperatura do solo e saúde das plantas durante períodos de calor intenso, já que o solo além de armazenar água, solutos e gases, também é capaz de armazenar e transferir calor.
“A temperatura do solo é um dos fatores preponderantes para o desenvolvimento das culturas, uma vez que influenciam todos os processos químicos, físicos e biológicos da relação solo-planta. A atividade biológica pode ser interrompida, as sementes podem não germinar e as plantas não se desenvolverem quando a temperatura do solo estiver acima dos limites fisiológicos dos processos envolvidos”, descreveu.

O produtor Jackson Ribeiro Marsetti, do Sítio São José, em Aracruz, prevê prejuízos na lavoura. “Nas lavouras de três anos acima, onde as galhas são maiores, estimo um prejuízo de 30% na safra. Nas áreas mais novas, onde não houve insolação direta, não vi queima dos frutos. Tivemos um período longo de chuvas espaçadas que foi para a granação e, como a galha pesa, os frutos ficam mais expostos ao sol”, disse o produtor.
Sobre a influência na qualidade dos grãos de café, o especialista detalha que a temperatura e a radiação solar incidente podem, a depender da intensidade, duração e momento fisiológico da planta, desencadear processos oxidativos que são intensificados devido ao aumento na produção de espécies reativas de oxigênio que causam peroxidação dos lipídeos e danos nos pigmentos, proteínas e ácidos nucléicos.
“Os danos causados durante o processo oxidativo têm reflexos na eficiência fotossintética das plantas e, por consequência, influenciam o crescimento da planta e a formação dos frutos, com impacto direto na quantidade e qualidade dos grãos colhidos”, relatou Paye.
Práticas agrícolas
Estudos têm sido conduzidos para traduzir os possíveis impactos do aumento da temperatura global ou regional e sua relação com a agricultura e a produção de alimentos. Entretanto, ainda é prematuro qualquer conclusão a respeito do tema.
“Logicamente que os agricultores têm a percepção que algo deve ser feito para mitigar os impactos e garantir boas safras e, por isso, o uso de tecnológicas como a irrigação, o uso bioestimulantes, antioxidantes, homônimos e protetores solares ganharam especial destaque em culturas perenes como o café”, ponderou o especialista.
Sobre as práticas agrícolas que podem ser adotadas pelo produtor para mitigar os efeitos do calor excessivo, seja na cultura do café, mamão ou pimenta, por exemplo, o engenheiro agrônomo destaca, além do capricho com a lavoura, as ferramentas de tecnologia de irrigação, como o monitoramento por sensores de umidade do solo, que permitem ajustes precisos em tempo real.
“Isso garante um ambiente de cultivo mais estável. O uso de compostos antioxidantes presentes em formulações nutricionais balanceadas ajudam na neutralização dos radicais livres. Assim, preservam a integridade celular dos cafeeiros. Programas de melhoramento genético com enfoque na pesquisa para desenvolver cultivares mais resistentes ao estresse oxidativo é outro ponto importante”, frisou Henrique de Sá Paye.
Pragas e doenças
Sobre a incidência de pragas e doenças nas plantações de café, o calor muda o hábito dos insetos e o ciclo das doenças em decorrência das altas temperaturas. “Temos percebido que algumas pragas estão mais persistentes e o controle está cada vez mais difícil e menos previsível, como é o caso dos ácaros e da cochonilha das rosetas. No caso das doenças, bacterioses e fungos fitopatogênicos, em especial fungos endofíticos [presentes no interior das plantas], vem dificultando o controle e aumentando a chance de perdas significativas de plantas e produtividade”, exemplificou o CEO Soil Agro.
Redação Campo Vivo