ARTIGO: Sua Excelência a Produtividade! Merece um Plano de Estado

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por José Adilson de Oliveira*

Nos últimos tempos tem se observado uma conscientização do produtor e das lideranças de que o campo precisa de renda. E a fala mais contundente que ouvi sobre o tema foi do Engenheiro Agrônomo Eliseu Alves, um dos idealizadores e fundadores da EMBRAPA e seu ex-Presidente. Em entrevista no Programa da FGV/Agro, Bate Papo com Roberto Rodrigues no fim de janeiro deste ano, fulminou os participantes com a assertiva: “O problema real do pequeno produtor rural é não ter lucro e, por isso, não consegue comprar tecnologia. Não tendo tecnologia, não terá lucro. E esse ciclo vicioso vem se perpetuando e nós ainda não conseguimos resolver o problema.”

É um senhor desafio, mas acredito que as autoridades, lideranças classistas e especialistas precisam se unir e buscar uma solução para esse grave dilema. Focando no café, principal produto do Agro Capixaba, observa-se que nos últimos 12 anos (2008 a 2020), pelos dados da CONAB, a produtividade média do café arábica no estado do Espírito Santo dobrou, passando de 14,7 para 30,5 sacas beneficiadas por hectare (ha). E a do conilon aumentou 60%, ou seja, passou de 25 sacas por ha em 2008 para 40 na média dos últimos 3 anos. Um show! Mas isso ainda não resolveu o problema da renda de grande parte dos produtores. Na atualização do pertinente estudo que o CEDAGRO faz sobre coeficientes técnicos e custo de produção, foi demonstrado que a redução de custo de produção por saca de café conilon irrigado é de quase 1/3 (32,6%), comparando as produtividades de 45 e 120 sacas/ha. No conilon não irrigado a redução chega a 23%. E no arábica o aumento da produtividade de 20 para 60 sacas por ha, gera redução de custo por saca de 44,4%. Ora, se a produtividade média do café arábica capixaba está em torno de 30,5 sacas/ha, mas o Estado tem tecnologia para produzir 60; e no conilon está em 40 sacas/ha, mas tem tecnologia para produzir 120, então é possível diminuir a diferença de níveis tecnológicos entre as classes produtoras de café do Estado e quebrar o nefasto ciclo vicioso identificado pelo ilustre Dr Eliseu Alves.

O mesmo raciocínio poderá ser estudado e aplicado para outros arranjos produtivos. As palavras chaves são Produtividade e Qualidade. Porém, o produtor não consegue se levantar do chão “puxando os próprios cabelos”, como dizia o saudoso colunista Joelmir Betting. E qual seria a saída então? Proponho que o Governo invista em um Plano de Estado pelo aumento da Produtividade e Qualidade do Café. Construído de forma participativa, envolvendo todos os atores do complexo produtivo de café, tendo como metas básicas o aumento de 50% na produtividade média do café arábica, elevando-a para 45 sacas/ha e dobrando a produtividade média do café conilon, alcançando 80 sacas/ha, no estado do Espírito Santo até 2030.

O aumento de produtividade via tecnologia e gestão, dará lucro ao produtor e aumentará a arrecadação de tributos, retornando os recursos investidos pelo Governo no Programa proposto. Assim, um Plano de Estado bem construído transformará o histórico ciclo vicioso negativo em positivo e todos sairão lucrando, inclusive, à sociedade. Fomentar o desenvolvimento com sustentabilidade é papel do Estado. A criação do Fundo de Apoio Rural – FAR foi uma bela iniciativa, mas se pode avançar com uma visão de futuro. O sucesso da proposta de produção de cafés especiais e a conquista dos selos de Indicação Geográgica – IGs, entre outros, são provas de que com união, foco e determinação é possível alcançar bons objetivos. É acreditar, fazer um bom planejamento, motivar os envolvidos, arregaçar as mangas e trabalhar!

Este artigo foi publicado na 45ª Edição da Revista Campo Vivo (Edição Especial)

*por José Adilson de Oliveira, Engenheiro Agrônomo e Advogado, ex-Presidente da SEEA e Consultor Técnico da Câmara Especializada de Agronomia – do Crea-ES

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