ARTIGO: A evolução da pimenta-do-reino e seu papel na cadeia produtiva capixaba

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Artigo publicado na Revista Campo Vivo – ESPECIAL PIMENTA-DO-REINO (Edição 49 – Dez/22 Jan/23)

por Alan Libardi Baptista*

Plantada no início de 1970, e tendo sua expansão de áreas e produção nos últimos 10 anos, o Espírito Santo (ES) se consolida como maior produtor e exportador brasileiro da especiaria, alcançando 72 mil ton. em 2021. E 2022, a expectativa é de manutenção dos números, com as boas produções alcançadas pelos nossos agricultores – graças ao clima, controle fitossanitário e manejos nutricionais.

A pimenta-do-reino compõe importante papel na agricultura familiar, empenhando significativo valor na diversificação de renda. Tamanha essa importância que o ES recebeu o reconhecimento de Indicação de Procedência (IP).

Sendo a especiaria mais consumida no mundo, a pimenta-do-reino (Pipper nigrum L.) produzida no ES, é destinada a maior parte da produção à exportação, principalmente para os países da União Europeia, Liga árabe e Estados Unidos.

Desejada por muitos mercados, até mesmo pelo seu principal concorrente, o Vietnã, que utiliza o produto para melhoria da qualidade reexportada do seu produto, este ano, vários alertas foram acesos: Salmonella spp., limite máximo de resíduo e antraquinona – oriunda da secagem em beneficiamento de contato com a fumaça da madeira.

Entendendo sua importância no cenário capixaba e mundial, resta uma pergunta para os tempos atuais, de preços baixos e aumento das barreiras comerciais: o que o futuro espera dos nossos manejos e mercados a longo prazo?

Como diz um ditado: “tempos difíceis, fazem homens fortes”, este é um momento de avaliar nossas ações dentro da cadeia produtiva. Respostas diretas sobre o assunto são complexas de alcançar, porém, precisamos de ações a curto e longo prazo, principalmente voltado para a gestão da propriedade, que precisa se reinventar, e ao mesmo tempo, dar retorno positivos para os investimentos que foram realizados.

A pimenta possui pouquíssimos produtos registrados para a cultura, e o uso correto de produtos, especialmente os compostos biológicos, faz com que alcancemos índices de LMRs aceitáveis. Uma das boas ações, são os manejos com leguminosas (Crotalárias, amendoim forrageiro e mucuna) e gramíneas (Brachiaria rusisiensis e Mombaça) – diminuindo a população de nematoides, aumento de teor de matéria orgânica, e redução de exposição do solo através do material decomposto (Mulching) na camada do solo.

Estufas a pleno sol são excelentes para o alcance da qualidade na matéria-prima, contrário, ao secador com o uso de fogo direto. Nos tempos de hoje, muitos mercados como o americano e da União Europeia não está aceitando esta qualidade, sendo necessárias adaptações por parte dos produtores ao que já existe. E este é um dos grandes desafios para produtores médios e grandes: otimização do processo de secagem. E aí, o que é melhor? Não atender à exigência de metade do mercado comprador, correr o risco de esperar que outros mercados consumam nosso produto – com Antraquinona, ou buscar investir em beneficiamento para atendimento destes mercados?

Não existe uma “receita de bolo”, mas protocolos podem ser montados e adaptados para as realidades atuais, que atenda às necessidades atuais dos mercados e gere renda para nossos negócios.

Conciliado a isso, as certificações agrícolas são excelentes ferramentas de gestão, análises e desenvolvimento do produtor nas áreas agronômicas, sociais e ambientais – importantes ações que a cadeia produtiva compradora já busca para atender seus compromissos globais com ESG.

Para finalizar, fazer o básico bem feito é nosso compromisso, e precisa partir de todos, pois só em conjunto que alcançaremos grandes resultados, próximo aos nos anos anteriores.

 

*Alan Libardi Baptista é Engenheiro Agrônomo especialista em agronegócio; Consultor em Certificações e Produção Agrícola de café e pimenta-do-reino há 10 anos e atualmente diretor da Colheito


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