ARTIGO: O conilon como veículo de desenvolvimento e bem estar social

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*por Frederico de Almeida Daher

Provavelmente somente aqueles que vivenciaram de perto e a olhos vistos a erradicação dos cafezais no ES, podem aquilatar em profundidade as consequências advindas da decisão do Governo Federal, em meados da década de 60 do século passado, de eliminar todo o café plantado no estado, ficando apenas as lavouras nas montanhas do ES.

Com essa medida cerca, de 53% das áreas com café foram erradicadas provocando um êxodo rural sem precedentes na história interiorana do ES. O campo esvaziou-se sem alternativas econômicas que pudessem continuar permitindo às famílias interioranas emprego e renda dignos a seus habitantes.

Todo esforço governamental então realizado, mostrou-se incapaz de sustentar contingente substantivo da população rural capixaba, tornando dolorosa a imagem de caminhões e mais caminhões com famílias inteiras deixando suas propriedades ou comercializando-as a preços aviltantes para migrar inclusive para outros estados da Federação, como Paraná, Pará e sobretudo Rondônia.

O interior capixaba no início e meados da década de 70 virou um grande deserto humano sem condição econômica de sustentabilidade para seus habitantes.

É aí nesse quadro desolador e sem perspectivas viáveis que surge a intrepidez do então Prefeito de São Gabriel da Palha, Dário Martinelli, que ouviu falar num Café tolerante à ferrugem (motivo maior para a erradicação do arábica) e que poderia ser a grande oportunidade para a retomada do desenvolvimento e fixação do homem novamente no campo.

Em meio a grande desconfiança da real capacidade do Café Conilon de suprir a lacuna econômica deixada pelo Café Arábica, sob a liderança do seu Prefeito Dário Martinelli, a Prefeitura de São Gabriel da Palha constrói um viveiro de mudas cujas sementes vieram da propriedade do Sr. Ernesto Caetano, que possuía uma pequena lavoura plantada com sementes advindas da Escola Agrotécnica de Santa Teresa (ES).

Ao deixar a Prefeitura o Sr. Dário lega ao seu sucessor Eduardo Glazar uma nova cafeicultura já de certa forma consolidada e capaz de superar as barreiras do ceticismo então reinante.

Foi nesse contexto de ceticismo que surge em Viana, na Grande Vitória, a indústria do café solúvel a REALCAFÉ, liderada pela intrepidez do Sr. Jônice Tristão que garante a compra de todo Café Conilon produzido na época. Foi a grande chave motora para que a Cafeicultura, em novos moldes, fosse definitivamente implantada e expandida.

Rapidamente a capacidade de absorção da produção pela Realcafé foi suplantada e o Conilon adentrou a um mercado mais amplo e pleno de suspeição de suas reais possibilidades.

Nesse ínterim como que uma percepção coletiva de que aquele Café veio para ficar a EMCAPA, empresa de pesquisa estadual, iniciou um trabalho fecundo de seleção de materiais genéticos mais produtivos gerando novas oportunidades de disseminação da cultura através das mudas clonais, que acabaram por dar uma nova dinâmica ao processo produtivo.

É importante também destacar-se a intrepidez dos Irmãos Vanderlino Bastos e Eumail Bastos, criando a VERDEBRÁS e lançando novos materiais genéticos via propagação de mudas por tubetes que acabaram por solidificar a Cafeicultura do Conilon em Terras Capixabas.

A partir da aceitação do Conilon como um Café capaz de atender sofisticados paladares novamente o pioneirismo do Dário Martinelli, lança o Conilon Cereja Descascado (CD) acompanhado por outros visionários cafeicultores como João Carlins Woñ Doelinger, Bento Venturim que além do Conilon CD lança o CAFÉ FAZENDA VENTURIM, conilon puro sem blends e outros intrépidos cafeicultores que arrostando tantas dificuldades, souberam sinalizar para o mercado as reais possibilidades desse extraordinário Café.

Para finalizar, é absolutamente justo destacar o papel da COOABRIEL nessa saga de difusão do cultivo e valorização do Café Conilon assegurando aos seus milhares de Associados, especialmente os mini, pequenos e médios cafeicultores a segurança de produzir e ter um agente seguro e confiável de comercialização para seu Café.

Uma Saga que merece ser relembrada para que fique nos anais da história a grandeza da CAFEICULUTRA do CONILON.

*Frederico de Almeida Daher

Engenheiro Agrônomo e Superintendente do Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café (CETCAF)


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