ARTIGO – “Nova safra e mais dificuldades”, por Wolmar Roque Loss

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O Governo Federal lançou, no início de junho, com o alarde de sempre, o Plano Safra 2016. Os dados são sempre ambiciosos. Mais 20% de recursos, em relação à safra passada, alcançando R$ 187,7 bilhões de financiamentos, (incluindo os da Agricultura Familiar), com juros nominais cerca de 20% superiores ao da safra anterior (taxa mais freqüente de 8,75%, para os produtores maiores), o que pode até não ser muito uma vez que a inflação no período tende a ser maior. 
 
Crescimento esperado da safra em torno de 7%, via efeito produtividade, um grande desafio, para uma economia que ficará, como um todo e na melhor das hipóteses, estagnada em 2016. 
Alguns fatores já conhecidos deste exercício terão efeitos negativos sobre a comercialização da safra futura, alguns de natureza interna, que repercutirão no mercado dos produtos domésticos, outros são fatores externos, que influenciarão no comércio exterior.
 
O primeiro deles diz respeito à recessão econômica deste ano, que prosseguirá em 2016, a qual provocará mais desemprego e perda de renda, influenciando o consumo das famílias brasileiras. Produtos mais nobres como carne bovina de primeira, embutidos, frutas especiais, queijos e outros derivados do leite tenderão a ser substituídos por outros mais baratos, de qualidade inferior. Neste particular, a redução será mais qualitativa do que quantitativa, pois esperamos que os programas de combate à pobreza (bolsa família, fome zero, alimentação infantil e de gestantes) supram a perda de renda. Mas o efeito na redução dos preços pode ser sentido, em termos reais e, para alguns casos, até nominalmente. Ou seja, em 2016 teremos casos de preços nominais inferiores aos deste ano.
 
O segundo efeito, como dito, está relacionado a fatores externos, com implicações na demanda internacional de commodities agrícolas, em especial, soja, milho, celulose, café e seringueira. Além da crise da Grécia, e de suas repercussões especialmente na Europa, o problema maior que se desenha é a redução do crescimento da China, em vista do estouro da bolsa de valores e seus impactos no crescimento daquele País. 
 
A China é o grande mercado de commodities do mundo, sejam elas agrícolas ou não agrícolas (minérios, petróleo bruto, p. ex.). Os economistas mais cautelosos estão projetando uma redução de cerca de 2 pontos percentuais no crescimento chinês, caindo de 7,5% para 5,5%, outros alardeiam que será inferior a 5%. 
 
O problema é que em valores absolutos essa queda é assustadoramente elevada e certamente afetará os preços dos produtos agrícolas exportados para aquele País, em especial soja, celulose, açúcar, carne de aves e algodão, dentre outros (para as carnes bovina e suína ainda persistem restrições sanitárias para entrada naquele País). Neste cenário, tudo indica que as margens de comercialização ficarão mais apertadas, o que empurra a solução da competitividade externa para o problema da logística. E isto não é nada novo. O custo da logística no Brasil não favorece as exportações.
 
O Estado do Espírito Santo como corredor de comércio exterior na Região Sudeste, seguramente apresenta o mais grave gargalo de exportações do agronegócio, especialmente em rodovias e nos terminais portuários. O Governo Federal pouco ou nada investiu aqui. Apenas concluiu o contorno de Vitória, tapou buracos na BR 262 e privatizou a BR 101, cobrando pedágios sem fazer melhorias substantivas em toda a sua extensão. Na área portuária, para não dizer que nada fez, aumentou o berço de atracação e promoveu o derrocamento e dragagem do canal de acesso ao Porto de Vitória.
 
Assim, o Espírito Santo e seus produtores perdem três vezes: primeiro, pela redução da demanda interna; segundo pela redução da demanda externa, via efeito China; terceiro, porque não incorporarão os ganhos que poderiam advir da melhoria das rodovias e dos portos capixabas, obras que não foram feitas. Perderão também o Brasil e a sociedade brasileira pela baixa competitividade externa, decorrente das ineficiências da logística de comércio exterior para os produtos agropecuários.
 
 
 
 

Artigo publicado na Revista Campo Vivo – edição 27 – Set/Out/Nov 2015

Wolmar Roque Loss

Eng. Agrônomo, Ms em Economia Rural e Desenvolvimento Econômico.

Superintendente do Crea-ES

 

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