ARTIGO: Guerra é GUERRA

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*por Geraldo Ferreguetti

O Brasil produz 1% do Potássio do mundo e consome 14%, esta afirmação por si só é suficiente para estremecer os pilares da sustentabilidade do agronegócio brasileiro, considerando que o Cloreto de Potássio (KCl – 60% de K2O), principal componente desta equação é um adubo praticamente insubstituível.

As fontes químicas alternativas com os polysulfatos e o KAMAG são de custo bem mais elevado e com praticamente 1/4 da concentração de K2O quando comparados com o Cloreto.

Aumentar a produção nacional deste importante insumo é um sonho bastante improvável de acontecer num curto/médio prazo pois segundo especialistas em mineração para este tipo de exploração demandaria um investimento na ordem de U$ 1,4 bilhão para produção de 1000 t de cloreto de potássio pronto para adubar nossas importantíssimas comodities. É muito dinheiro, quando sabemos que o nosso consumo atual é na casa de 12 milhões de toneladas/ano.

Além é claro das implicações políticos-ambientais que naturalmente surgem nestes tipos de demanda que geram obstáculos de difícil transposição.

As minas existentes no Brasil, São Gotardo, pequeníssima produção com produto de baixa concentração de K (10%).

A mina de Sergipe, de propriedade da MOSAIC, gigante canadense na produção mundial de potássio encontra-se praticamente desativada devido ao alto custo de exploração e dos enormes impactos ambientais gerados pela sua exploração.

A rocha de onde se extrai o potássio em Sergipe é a Carnalita que além do alto custo de exploração (quando comparado com a Silvita, outra rocha-fonte de potássio com alta disponibilidade no Canadá), a produção gera uma enorme quantidade de cloreto de magnésio, resíduo de difícil e custoso descarte.

As explorações no Canadá são altamente rentáveis quando comparadas com as brasileiras, possa ser que com o preço atual da tonelada de KCl a U$ 1.000,00 esta situação possa mudar, mas é uma condição temporária, é o que esperamos.

As fontes alternativas seriam o uso de matéria orgânica, segundo o Professor Vitti, a matéria orgânica não precisa ser mineralizada para liberar o potássio devido a sua condição iônica, como acontece com os outros nutriente principalmente o Fósforo (P), Nitrogênio (N) e Enxofre (S), basta umedece-la.

Vamos analisar as nossas fontes mais ricas de K, que seriam a vinhaça (resíduo da produção de álcool e açúcar), a palha de café e o esterco de galinha.

Mas, salvo engano, todo o potássio contido nestas fontes vem do KCL, ou então de onde viriam estas enormes disponibilidades se não das adubações generosas deste nutriente que fazemos nas lavouras de milho, soja, café e cana de açúcar? Ao meu ver voltaríamos à questão inicial.

Outra opção alentada pelos colegas da agricultura sustentável, antiga agricultura orgânica, seriam o uso dos pós de rocha as chamadas “rochagens” ou “remineralizarão dos solos” com uso de rochas moídas e praticamente insolúveis.

Nesta técnica as rochas, principalmente os resíduos de mineração ou britagem, sofreriam um processo de moagem mais fina e seriam aplicadas ao solo, a lanço, incorporadas como a calagem, e em seguida faz-se uma aplicação de microrganismos especiais no solo e estes microscópicos ajudantes promoveriam a decomposição da estrutura da rocha disponibilizando os nutrientes nela  contidos, um tipo de bio-intemperismo forçado. Uma descrição bonita de uma técnica que seguramente carece de confirmação pela pesquisa.

Segundo alguns críticos desta tecnologia o sucesso obtido em alguns projetos que usam esta técnica no Brasil não vem da disponibilidade do K existente na rocha ,mas sim da transferência do potássio não trocável existente nos solos e que não parecem nas análises de solo convencionais, por ação dos próprios micro-organismos que supostamente estariam intemperizando a rocha aplicada. Um sucesso temporário que cobraria um preço alto no curto/médio prazo.

A EMBRAPA montou uma caravana para rodar o Brasil passando-nos (agrônomos de campo) atestado de incompetência, pois segundo eles nós estamos adubando errado e é possível uma redução de 10 a 40% do consumo de adubo se fizermos as coisas certas recomendadas por eles. Será? Para mim é gastar dinheiro à toa.

Pô, então não tem saída? Creio que sim, vejam:

Segundo o Professor Fabio Vale do Instituto Internacional de Potassa em fevereiro/22 entrou em nossos portos vindo de diversas partes do mundo 730.000 t de potássio, março não sabemos quanto, mas entrou algum, e abril é o mês em que historicamente consumimos a menor quantidade de adubo/mês do ano. O seja não precisamos de pânico, temos que negociar.

Mas esta negociação não deve ser feita governo x governo, temos que convocar nossa seleção de grandes empresários do agro brasileiro, os Maggi os Scheffer, os Capelletos, os Krolling, os Batistas e deixar que eles negociem diretamente com as fontes produtoras, cabendo ao governo reduzir taxas de impostos, auxiliar na logística de chegada porto-fazenda e trabalhar no sentido de atrair investimentos para o setor de mineração de potássio no Brasil, cuidando principalmente das questões socioambientais. Não precisamos tirar índio da terra para explorar potássio, até por que os índios estão no solo e o potássio no subsolo.

Assim a guerra acaba e a vida continua. Se a guerra continuar? Aí meus amigos, é guerra.

*Geraldo Ferreguetti, Engenheiro Agrônomo


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