
Nos últimos meses, principalmente na última semana, o anúncio de novas taxações por parte dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros trouxe um alerta importante: o mercado global está cada vez mais imprevisível. E, quando falamos do agronegócio capixaba, isso tem reflexos diretos na rentabilidade, nos contratos e na estabilidade das operações.
O Espírito Santo é um estado de vocação exportadora. Nossas riquezas, como o café conilon, a pimenta-do-reino, o cacau, frutas tropicais e madeiras cruzam oceanos e chegam a mercados exigentes. Mas essa mesma vocação que gera oportunidades também nos expõe a riscos que estão fora do nosso controle direto: política externa, acordos comerciais, brigas políticas, variações cambiais e barreiras regulatórias, como a que acaba de ser imposta pelos EUA.
E é justamente nesse tipo de cenário que a saúde do caixa se revela um dos ativos mais estratégicos da empresa agropecuária. Ter um caixa robusto não é apenas uma questão de conforto, é uma questão de sobrevivência e posicionamento competitivo. Quem tem liquidez disponível em momentos de incerteza não precisa vender na baixa, pode segurar a produção, negociar melhores prazos, aproveitar oportunidades de compra e até investir quando os outros estão recuando.
A crise afeta todos, mas quem está capitalizado joga o jogo de forma diferente. Além disso, um caixa forte dá ao produtor liberdade para fazer ajustes estratégicos com agilidade: mudar a distribuição de culturas, investir em melhoria de produtividade, garantir capital de giro para manutenção da equipe e honrar compromissos mesmo com queda temporária na receita. Ele garante fôlego para atravessar a tempestade sem comprometer o futuro.
Muitos produtores ainda associam liquidez a dinheiro parado. Mas o conceito moderno de caixa eficiente envolve estratégias inteligentes de alocação, com ativos conservadores e de alta liquidez, que protegem o patrimônio e estão sempre disponíveis em caso de necessidade.
Na prática, isso significa sair da lógica do improviso e entrar na lógica do planejamento. A gestão do caixa não pode mais ser reativa. Deve ser parte de uma visão técnica e profissional da fazenda ou empresa rural, integrada com o planejamento patrimonial, fiscal e sucessório.
A taxação americana pode, sim, prejudicar margens e contratos, mas também pode ser o gatilho para mudanças estruturais. Se os EUA fecham portas, é hora de buscar novos mercados, desenvolver marcas próprias, investir em certificações e se blindar internamente com estrutura financeira sólida e previsível.
Tenho visto produtores e empresários do agro capixaba que já entenderam isso. Estão reforçando seus caixas, redesenhando suas tesourarias, implementando holdings familiares, planejamentos previdenciários e blindagens jurídicas, sempre com foco em perpetuidade e independência.
O agro brasileiro é resiliente. O capixaba, mais ainda. Mas a resiliência de hoje precisa vir acompanhada de inteligência financeira e estratégia de longo prazo. Porque, no fim das contas, crises virão, sempre vieram. Mas quem tem caixa, visão e preparo, transforma incerteza em liderança. E é esse o produtor que vai liderar o campo capixaba nas próximas décadas.

José Neto Rossini Torres (@netorossini),
sócio, gestor comercial e assessor de Investimentos Alta Renda
da Forttu Investimentos; advogado
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