As chuvas voltaram a abençoar o solo capixaba. Começou aos poucos, e nunca vi tamanha torcida, desejos e orações para chover. Nas cidades e no interior, onde se mostravam a escassez de água para a população e lavouras destruídas pela seca. Fotos e manifestações nas TVs, nos jornais, e no Wattsap, mostrando a chuva caindo, a alegria e a esperança da situação normalizar, em outros caso, mais ao norte capixaba a aflição e mesmo o desespero, por ainda não serem abençoados pela chuva.
Acompanhei, como poucos, as manifestações do interior, da roça mesmo, pela identidade de origem e pela profissão de engenheiro agrônomo que abracei há 41 anos. Especialmente através do wattsap, coisa que a maioria das pessoas do rural já sabe usar. Impressionante como a mídia social pegou lá na roça; há grupos organizados de familiares, de associações, de membros de cooperativas, de produtores rurais etc. Essa, inclusive, é uma ferramenta que precisa ser mais bem explorada pela comunicação rural pública.
Mas voltemos ao início, antes do começo das chuvas. Andando pelo interior, me senti no Nordeste: Novenas, procissões, gente carregando estátuas de santos, outros pedras de rio e mais outros cantando e chorando. O canto de lamúria, de sentimento de dor, lembrando os “Salmos” da Bíblia.
Vi cafezais dizimados, secos, torrados. O que antes era verde intenso agora cinza-preto, lembrando o luto da natureza. Vi animais mortos, urubu comendo carniça, caveiras de bois expostas ao sol escaldante e gente caminhando a esmo, não acreditando, por mais que se esforçassem, na capacidade de destruição do sol, sem chuva. Coisa nunca antes vista em terras capixabas.
Ideias, palpites, soluções e críticas surgiram de todas os lados. Críticas ao exagerado consumo de água da agricultura irrigada, críticas à tecnologia gerada que privilegiou o uso da água e adubação química como estimulo à produtividade, necessidade de barragens, discursos inflamados pelo desmatamento histórico, solos sem cobertura, expostos, sem proteção etc.
Vieram as chuvas. Começaram empurradas pelas frentes frias que vinham do sul. Não romperam inicialmente a pressão da temperatura e do ar quente do Vale do Rio Doce. Alguns se desesperaram: Chove no Sul do Estado, mas o Norte é terra castigada. A chuva não vem. Fotos e mais fotos da tragédia: rios secos, bombas lacradas, boi gado morrendo, cafezais destruídos e tudo o mais de trágico e triste.
As chuvas, enfim, romperam a resistência do Vale do Rio Doce a partir da segunda quinzena de outubro. Alegria quase infantil, vídeos da chuva caindo, nuvens e serração nos morros, a visão de um milagre: aqui choveu 20mm, outros dizias choveu apenas 10mm, mas vem mais aí, outros, entusiasmados, registravam – na minha terra choveu 60mmm, uma dádiva.
O ciclo das águas, depois de três anos secos, parece estar voltado ao normal. Deus o permita que sim. Aí vem uma questão: O que estamos fazendo para reduzir os efeitos trágicos de novas secas? Para mim, tudo que fizermos é valido, mas uma iniciativa é a mais importante: PROTEGER O SOLO. Se não for de árvores nas áreas mais declivosas, que o seja de cobertura vegetal. Ora cobertura viva, nas ruas do café, ou de cobertura morta – quando é necessário carpir o mato, para facilitar a colheita.
Construir barragens é importante quando tem água para armazenar. E só a teremos em mais abundância quando todo o solo estiver de alguma forma protegido. Assim as águas das chuvas ficarão retidas e alimentarão os rios. As barragens segurarão o excesso de água que o solo não reteve. Que venham as chuvas e que os rios não sequem!
Wolmar Loss
Eng. Agrônomo, Advogado – Ms em Economia Rural e Desenvolvimento Econômico