
O agronegócio capixaba vive uma fase de expansão acelerada. A tecnologia chegou ao campo, a produtividade aumentou, o produtor passou a enxergar sua propriedade como empresa, e em muitos casos, como um verdadeiro império em construção. Mas junto com o crescimento, surge um novo tipo de preocupação: o risco invisível que acompanha o sucesso.
A fazenda que prospera vira patrimônio. E o patrimônio, quando mal estruturado, vira vulnerabilidade. Não são poucos os casos de produtores que passaram décadas construindo suas terras, diversificando culturas, adquirindo máquinas, formando equipes… e, por falta de organização fora do campo, colocaram tudo isso em risco. Um processo judicial inesperado, um acidente, um inventário conturbado ou uma dificuldade no fluxo de caixa pode, literalmente, desestabilizar todo o legado de uma família e suas gerações.
Blindar o patrimônio rural não é algo reservado para grandes corporações. É uma necessidade real para qualquer produtor que tenha visão de longo prazo. Mas é aí que vem um ponto crucial: não existe fórmula mágica. Não se trata de abrir uma holding e achar que isso, por si só, resolve tudo. Nem de contratar um seguro e achar que está 100% protegido.
A verdade é que toda solução depende da realidade de cada propriedade e, principalmente, da vontade do proprietário em organizar sua vida patrimonial com seriedade e método.
Em alguns casos, a constituição de uma holding pode ser um excelente caminho. Ela permite separar o patrimônio pessoal da operação, organizar participações entre herdeiros e dar fluidez ao processo sucessório. Mas sua estrutura exige estudo, responsabilidade fiscal e acompanhamento jurídico (sempre). Não basta abrir a holding, é preciso saber por quê, para quê e como operá-la ao longo do tempo.
Outra frente importante é a previdência privada, que pode servir como reserva estratégica, instrumento sucessório eficiente (pela agilidade e isenção de inventário) e planejamento de renda futura. Mas, de novo: há diferentes tipos de previdência, e a escolha errada pode comprometer a eficiência do plano.
Imagine que na falta do seu sócio o herdeiro dele irá entrar na operação, será que ele está preparado para contribuir? Também entram em cena o seguro empresarial, que protege a operação contra riscos operacionais e sucessórios dos sócios, e o seguro de vida pessoal que pode ser um dos instrumentos mais eficazes para garantir liquidez no momento mais delicado para a família.
O ponto é simples, mas profundo: nenhuma dessas soluções funciona isoladamente ou de maneira genérica. Blindagem patrimonial não se faz com “receita de prateleira”. Ela exige trabalho técnico, estudo profundo da realidade da fazenda, e, acima de tudo, vontade do produtor de pensar além da próxima colheita.
Na minha atuação como assessor de investimentos, venho acompanhando um número crescente de produtores que decidiram dar esse passo. Muitos deles entenderam que produzir bem já não é o bastante. É preciso estruturar, planejar e proteger. E isso só é possível quando existe clareza de propósito, relacionamento de confiança com profissionais especializados e intensidade na execução.
O campo capixaba tem força, história e produtividade. Mas para garantir que tudo isso se transforme em legado duradouro, é preciso maturidade. E maturidade exige decisão.

José Neto Rossini Torres,
sócio, gestor comercial e assessor de Investimentos Alta Renda
da Forttu Investimentos; advogado
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