Estudo inédito busca soluções para manejo de moscas-das-frutas, uma ameaça à exportação de mamão capixaba

Pesquisa do Incaper já identificou o café robusta como hospedeiro intermediário da praga quarentenária em mercados como os Estados Unidos

por Portal Campo Vivo
Larvas de moscas-das-frutas se alimentando dos frutos de café. Foto: acervo Incaper
Tiago Morales Silva, pesquisador do Incaper, entomologista e coordenador do estudo. Foto: arquivo pessoal

A presença de moscas-das-frutas nas lavouras de mamão apresenta ameaça à exportação capixaba, especialmente para os Estados Unidos, devido às restrições rigorosas impostas no protocolo do Programa de Exportação do Mamão Brasileiro. Para identificar estratégias de controle e manejo, pesquisadores do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Norte (CPDI Norte) do Incaper, em Linhares, realizam estudo inédito em que já identificaram, por meio de informações biológicas, que o fruto do café robusta é o hospedeiro intermediário da mosca de espécie Ceratitis capitata neste cenário.

Segundo o pesquisador Tiago Morales Silva, entomologista e coordenador do estudo, os produtores de café robusta, espécie que o material genético foi introduzido no Espírito Santo vindo de Rondônia, começaram a identificar a presença das moscas nas armadilhas montadas para monitorar as lavouras localizadas nas áreas produtoras de mamão. O café robusta, diferente do conilon, tem um fruto maior, com maior quantidade de casca e de polpa, o que favorece a hospedagem da praga.

“Ao levantarmos informações biológicas descobrimos o robusta como hospedeiro intermediário. O maior dano, na verdade, é legislativo, quanto à exportação. Hoje no Brasil colhemos o mamão ainda verde e a mosca não consegue se estabelecer, porém, se o produtor não tomar cuidado e não colher da forma correta, ela pode gerar danos para o mamão”, comentou o pesquisador, informando que em 2023, foi observada, pela primeira vez, uma infestação significativa de moscas-das-frutas no café robusta na região.

Controle e manejo

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), José Roberto Macedo Fontes informou que duas espécies, Ceratitis capitata e Anastrepha fraterculus, são problemas para exportações americanas e também para o Chile, novo mercado conquistado pelos capixabas. Neste contexto, o mercado europeu, para o onde é exportado o maior volume do ES, é uma exceção, pois na região a praga não é quarentenária.

José Roberto Macedo Fontes, presidente da Brapex. Foto: arquivo pessoal

Fontes informou que todas as lavouras que tem como destino de exportação os Estados Unidos ou, futuramente para o Chile, são monitorados. Se o índice de moscas capturadas nas armadilhas atinge o máximo permitido, a colheita da lavoura é suspensa.  Todas as associadas que fazem exportação para o mercado americano e que possam vir fazer para o Chile, fazem o controle de maturação do fruto nas lavouras e no packinghouse para que não haja nenhuma oviposição da mosca na fruta.

“Todas essas precauções são ditadas no acordo bilateral de exportação em que a Brapex é signatária. Nunca houve detecção para esse mercado devido ao controle eficiente do programa de exportação que foi vitrine para outros países. Esta é uma área essencial para a pesquisa aplicada à exportação de frutas”, destacou o presidente da Brapex.

O projeto, intitulado “Café robusta (Coffea canephora) como hospedeiro de moscas das frutas na região produtora de mamão do Espírito Santo de exportação para os Estados Unidos”, começou em março deste ano, no período da safra, e se estenderá até 2027. Envolve a coleta de frutos em diversos municípios do norte do Espírito Santo, sendo os principais Linhares, Sooretama, Aracruz, Vila Valério e Marilândia. Os frutos coletados são levados ao laboratório para avaliação da infestação.

“A intenção da pesquisa é reduzir os níveis populacionais da praga na região produtora de mamão e evitar impactos negativos sobre as exportações. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é parceiro nesse projeto de pesquisa e estão interessados nesses dados, pois este é um risco que pode se estreitar e causar problemas nas exportações”, ponderou o coordenador do estudo.

O projeto de pesquisa recebe apoio do Mapa, da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex) e do setor produtivo de mamão.

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Moscas-das-frutas

As moscas-das-frutas são pragas cujas larvas se alimentam de diferentes frutíferas, como manga, goiaba, mamão e citrus, provocando danos econômicos. No Brasil, as espécies mais comuns e importantes para a fruticultura são Ceratitis capitata e Anastrepha fraterculus.

As moscas também podem atacar frutos de café, especialmente variedades de arábica, cujos frutos têm casca e mucilagem mais espessas, favorecendo o desenvolvimento das larvas. Em contraste, os frutos de variedades e clones de conilon cultivados no Espírito Santo, por serem menores e com menor espessura de casca e mesocarpo, apresentam baixa infestação por moscas-das-frutas. No entanto, nos últimos anos, houve a introdução de materiais genéticos de café robusta oriundos de Rondônia na região Norte do estado.

Valda Ravani, Redação Campo Vivo

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