No final de setembro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que repassa os dados referentes à lavoura, também reduziu a previsão para a safra de café do Brasil, para 42,15 milhões de sacas em 2015, ante as 44,28 milhões de sacas da projeção de junho, citando menores rendimentos na colheita e no beneficiamento.
“As safras de café são bianuais, por isto, sempre vai haver um ano bom e outro ruim, em volume. Faz parte da natureza da cultura. Estas quedas de volume são normais e em nada afetam o mercado internacional quando elas são moderadas”, analisa o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Ruy Barreto Filho.
O café é o quinto produto de maior volume de exportação do setor agropecuário brasileiro e o País é o primeiro do mundo em vendas externas, o equivalente a 1/3 de toda a produção do planeta. Entre os meses de janeiro e agosto deste ano, foram US$ 4,1 bilhões em receita e 23,5 bilhões em volume, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
PRODUTOR RURAL
Neste cenário, o produtor rural tem a tarefa de produzir mais e com qualidade, se quiser atender aos interesses de seus importadores. No entanto, o que se observa é que eles têm pouca participação nas tomadas de decisões.
“O Brasil, como o maior produtor do mundo, tem um grande market share (participação de mercado, em português) nas ligas blends de café, mas os produtores têm pouca influência na política de exportação. Os traders é que definem este jogo”, afirma o diretor da SNA.
POLÍTICA
Do total embarcado em 2014, 90,5% do volume correspondeu ao café verde, restando apenas 9,5% ao industrializado (torrado e moído e solúvel). Este nível de participação nas vendas externas é considerado normal, segundo Barreto, “até porque o volume de matéria-prima sempre será maior, devido aos mercados consumidores terem suas indústrias locais”.
O grande problema nacional, na opinião do diretor da SNA, é a falta de política exportadora do setor industrializado. “As exportações de solúvel estão estagnadas há anos e não há perspectiva de aumento da oferta, já que no Brasil é proibido o drawback. Isto faz com que, muitas vezes, não tenhamos preços para competir com a Alemanha, por exemplo, que compra e vende cafés industrializados de diversas origens. Nós nos comportamos como ‘país-colônia’, sem interesse no setor de valor agregado, tipo um complexo de ‘vira lata’.”
O drawback, citado por Barreto, refere-se à restituição ao exportador dos impostos alfandegários, cobrados pela importação da matéria-prima utilizada na fabricação do produto exportado.
FUTURO
Para os próximos anos, a Organização Internacional do Café (OIC) prevê que a demanda do planeta por café aumente em 20 milhões de sacas ao ano, saltando de 150 milhões para 170 milhões. O crescimento do consumo interno no Brasil está previsto em 2,62% ao ano na próxima década, segundo estimativa da Confederação Nacional de Agricultura (CNA).
Na visão de Barreto, o País não vai acompanhar este ritmo. “O Brasil parou no tempo, não abre novos mercados há cem anos. Neste mesmo período, o Vietnã colocou 22 milhões de sacas ao ano a mais no mercado e o Brasil continua com a mesma clientela, ou seja, perdeu mercado se comparado a outras nações.”