O produtor brasileiro de soja gasta, hoje, para levar a produção da fazenda até o porto, em média, US$ 92/tonelada, quatro vezes mais do que na Argentina e nos Estados Unidos, por conta da deficiência da logística nacional. Esse valor representa aumento de 228% em relação à década passada, quando a quantia gasta era de US$ 28/tonelada. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (08/10), pelo consultor de Infraestrutura e Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet.
Ele é um dos palestrantes do Dia de Mercado de Grãos, em Luís Eduardo Magalhães (BA), evento promovido pela CNA, Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB) e sindicatos rurais do oeste baiano. O encontro reuniu 150 pessoas na sede regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), entre produtores rurais, técnicos e profissionais ligados ao setor agropecuário. O objetivo do evento é levar informações sobre as principais demandas do segmento rural aos produtores da região e aprofundar informações do Projeto Campo Futuro, desenvolvido pela CNA e entidades acadêmicas.
Ao apresentar dados sobre a logística brasileira, Fayet alertou que o alto custo do setor com o frete da sua produção reduz a competitividade do país para exportação. “Hoje, se um produtor de soja vende uma tonelada por US$ 450 para fora do país, ele já perde US$ 92 com o frete”, afirmou. Segundo ele, um dos motivos deste custo é a falta de um sistema de logística compatível com a eficiência da produção “dentro da porteira”. “Infelizmente nossos problemas fora da porteira nos prejudicam”, lamentou.
Um exemplo claro da carência de infraestrutura e logística no Brasil se refere à produção das novas fronteiras agrícolas, localizadas acima do paralelo 16 Sul, abrangendo parte do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, situados no Corredor do Arco Norte. Estas regiões respondem por quase 60% da produção nacional de soja e milho, gerando excedente de 64 milhões de toneladas para exportação. Entretanto, a falta de hidrovias, ferrovias, rodovias e portos obriga os produtores a deslocarem suas safras até os portos do Sul e Sudeste.
Um produtor de soja de Sorriso (MT), por exemplo, precisa percorrer mais de dois mil quilômetros para levar sua produção até os portos do Sul e Sudeste. Até o Porto de Santos, o custo ficaria em US$ 126/tonelada. Por outro lado, se os portos de Belém ou Miritituba, no Pará, tivessem condições de operacionalização para receber a produção de Sorriso, o custo seria de US$ 80/tonelada, US$ 46 a menos. “Seria mais dinheiro no bolso do produtor”, disse Fayet. No entanto, ressaltou, a recuperação da capacidade de operacionalização dos portos pode levar muitos anos. Se o incremento for de cinco milhões a cada ano, o país levaria de 18 a 20 anos para atender a atual demanda dos portos para exportação.
Fayet relatou o trabalho feito pela CNA para melhorar a questão de infraestrutura e logística. A pauta de prioridades inclui, além da ampliação operacional dos portos, a ampliação da concorrência portuária, a construção de mais rodovias e ferrovias para reduzir o custo operacional do frete, entre outras medidas. “Para recuperar a economia, é preciso investir em infraestrutura. Estamos muito bem dentro da porteira, mas fora dela estamos perdendo a guerra. Não adianta ter mercado, terras pra atividade, se não tiver cadeia logística suficiente”, disse o consultor.
Custo de produção – Segundo palestrante do dia, o pesquisador Mauro Osaki, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), falou sobre a evolução do custo de produção em culturas como soja e milho nas principais regiões agrícolas do país a partir do Projeto Campo Futuro, no qual técnicos da CNA e do Cepea realizam levantamentos de informações sobre os custos. Também abordou a influência do câmbio na produção, que tem ligação direta com o preços de insumos como fertilizantes, que são atrelados principalmente à moeda norte-americana.
Ele fez, também, um histórico de questões como clima, pragas, doenças e rentabilidade do setor. Em alguns casos, lembrou que o milho teve prejuízo em razão de fatores como clima, mas a soja fez com que o produtor tivesse mais rentabilidade, recuperando inclusive os prejuízos com o cereal. Contudo, frisou a alta dos custos de produção para combater pragas como a Helicoverpa armigera.
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