
No cenário atual, em que os desafios da desigualdade social, degradação ambiental e crises econômicas são crescentes, as empresas vêm sendo cada vez mais exigidas a desempenhar um papel que vai além da geração de resultados ligados ao negócio. A inclusão de valores sociais, ambientais e de governança em suas operações — amplamente conhecida pelo conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance) — tornou-se uma demanda não apenas de consumidores, mas também da classe empresarial e dos setores público e privado.
Em 2024, uma pesquisa encomendada pelo Google à MindMiners, empresa de tecnologia especializada em pesquisas digitais e análise de dados sobre o comportamento do consumidor, mostrou que quatro em cada cinco entrevistados, ou seja, 83% dos participantes, valorizam empresas e marcas ligadas à agenda ESG. Da mesma forma, também consideram importante que elas atuem para minimizar os impactos gerados ao meio ambiente e na construção de um mundo mais justo e responsável para a sociedade. Mesmo entre entrevistados que desconheciam o termo ESG, o índice mostrou-se representativo: 80% que não sabiam o significado concordaram que as empresas devem agir em causas ligadas ao tema.
As organizações demonstram estar atentas a essa demanda trazida pelo público brasileiro. Uma pesquisa de 2023 feita pela PwC (Pricewaterhouse Coopers – multinacional de auditoria e consultoria), em parceria com o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), indicou que 91% das empresas de capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) publicaram resultados não-financeiros do ano, abordando dados relacionados aos pilares ambiental, social e de governança.
O efeito da valorização do ESG entre os diversos públicos é positivo, mas traz consigo um grande desafio: fazer com que as organizações, de fato, executem ações verdadeiras e duradouras, materializando iniciativas que reflitam esse comprometimento.
O termo greenwashing (ou lavagem verde em tradução literal) refere-se à dinâmica do discurso sem a prática, estratégia bastante utilizada em ações de marketing nas quais grupos, empresas ou organizações usam os conceitos socioambientais apenas para alimentar uma boa imagem, sem entregar consistência na realização de ações verdadeiramente significativas, em diversas oportunidades manipulando a opinião pública com informações falsas.
Essa prática impacta negativamente as empresas compromissadas, que precisam redobrar a atenção e o cuidado na tratativa de temas socioambientais para não serem confundidas com as que só afirmam realizar algo, mas de fato não têm posturas condizentes com o que citam.
De acordo a Pesquisa Global com Investidores 2023, da PwC, nove em cada dez investidoresbrasileiros (98%) dizem que relatórios corporativos de sustentabilidade contêm informações não comprovadas. No contexto mundial, o índice de percepção de greenwashingé de 94%.
Na contramão deste cenário, as marcas devem reforçar suas iniciativas e estratégias para garantir a coerência entre o falar e o agir, com responsabilidade e transparência na comunicação e realização das ações. O segmento de base florestal também está atento aos conceitos ESG em suas operações. As boas práticas são pautas constantes nos encontros promovidos entre entidades e associações que representam o setor, buscando fortalecer e ampliar iniciativas construídas ao longo dos últimos anos.
Na Suzano, por exemplo, praticamos o ESG de maneira integrada às rotinas de nossas atividades produtivas, demonstrando profundo compromisso com ações que geram transformações sociais, ambientais e econômicas em municípios do entorno das operações da empresa.
Em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, definimos metas ambiciosas para impulsionar a construção de um mundo mais justo e sustentável. Entre elas destaca-se a retirada de 200 mil pessoas da linha de pobreza nas regiões em que atuamos, até 2030.
Conforme a última edição do nosso Relatório de Sustentabilidade, até 2024 a Suzano retirou da linha da pobreza mais de 97 mil pessoas, por meio de ações de incentivo ao empreendedorismo local, oferta de programas de qualificação profissional e fortalecimento da educação.
Outra meta importante da empresa é a criação de corredores ecológicos que buscam conectar 500 mil hectares de áreas prioritárias para conservação nos biomas Amazônico, Cerrado e Mata Atlântica até 2030.
Nos estados do Maranhão, Pará e Tocantins, a área total administrada pela empresa é de 568 hectares, incluindo áreas destinadas ao plantio de eucalipto e à proteção ambiental. Destes, 308 hectares são destinados à proteção florestal, o que representa aproximadamente 58% da área total, refletindo um compromisso real com a sustentabilidade e o equilíbrio entre atividades produtivas e a conservação da biodiversidade. Além disso, a companhia apoia pequenos e médios agricultores familiares com práticas de manejo produtivo, fortalecendo a biodiversidade e contribuindo para o desenvolvimento sustentável onde atua.
Para promover os direitos humanos e o trabalho decente no setor florestal brasileiro, a Suzano firmou, em 2024, uma parceria com o Pacto Global da ONU e a OIT (Organização Internacional do Trabalho). O objetivo central dessa colaboração é fortalecer a cadeia produtiva do setor florestal, visando à implementação efetiva da Devida Diligência em Direitos Humanos e à promoção do trabalho decente em toda a sua extensão.
Um dos resultados mais significativos dessa parceria é o desenvolvimento do mecanismo “Nossa Voz”. Essa iniciativa pioneira proporcionará aos trabalhadores e trabalhadoras do setor florestal um canal legítimo de escuta e reclamação, com o propósito de oferecer remediação justa por meio do diálogo social. A implementação do “Nossa Voz Florestal” abrangerá os estados da Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais.
Os exemplos citados demonstram como deve ser a atuação das empresas, independentemente do seu segmento: a responsabilidade que garante o cumprimento rigoroso das normas legais, validando sua licença de operação, mas com um olhar voltado para a garantia de direitos e a transformação socioambiental para as futuras gerações.
O esforço deve se concentrar no fomento a uma cultura cada vez mais voltada aos valores de sustentabilidade, envolvendo toda a cadeia produtiva e todas as partes interessadas. Ou seja, manter a resiliência e a pauta em destaque no ambiente corporativo, mesmo diante dos movimentos que surgem para questionar.
Afinal, a adoção desses padrões sustentáveis, sociais e de governança, executados com consistência, estratégia e transparência, fomentam uma transformação real, criando valor e, consequentemente, gerando o melhor resultado. Trata-se de um compromisso genuíno com a mudança social.

Clara Gazzinelli de Almeida Cruz,
Gerente Executiva de Sustentabilidade na Suzano, formada em Direito e mestrado em Direito Societário na Faculdade Milton Campos, e LLM degree pela University of Chicago.
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