A visita aconteceu em um momento importante no cenário mundial em que se discute novas regulamentações ligadas à sustentabilidade
“Um marco para a cafeicultura capixaba e para o Brasil”, resumiu o subsecretário de Desenvolvimento Rural da Secretaria de Estado da Agricultura do Espírito Santo (Seag), Michel Tesch, sobre a visita de representantes de entidades internacionais dos Estados Unidos e da Europa, que estiveram no Espírito Santo entre os dias 29 e 31 de maio. A visita aconteceu no momento em que ocorrem discussões importantes na cafeicultura mundial: as regulamentações com base na sustentabilidade e na proteção dos recursos naturais, e o Espírito Santo tem dado sua relevante contribuição neste contexto.
“O Espírito Santo nunca recebeu uma comitiva tão representativa, ainda mais neste momento em que a cafeicultura mundial atravessa. Na União Europeia, o parlamento acabou de estabelecer uma nova regra para commodities livres de desmatamento e o café está incluso entre elas. Foi a partir daí que se constituiu uma força-tarefa público-privada, com atuação da organização internacional do café, para debater os impactos deste regulamento, para discutir os impactos dessa regra nas regiões produtoras, inclusive no Brasil, haja visto que é o maior produtor mundial do grão”, comentou Tesch.
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A visita foi organizada pelo Governo do Estado, por meio da Seag, e articulada pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Em três dias a comitiva percorreu propriedades produtoras do Norte ao extremo Sul do estado, finalizando a visita técnica nas regiões montanhosas.
Passaram pelas regiões das três principais origens, que possuem Indicação Geográfica, onde constataram os avanços expressivos na qualidade e na sustentabilidade. Como forma de enaltecer essa qualidade, foram realizados quatro cuppings, com cafés especiais, que é uma prova técnica que segue os padrões da Specialty Coffee Association – SCA.
Estavam na comitiva, o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil e Superintendente na Tristão Cia de Comércio Exterior, Márcio Cândido Ferreira, e o CEO do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, Marcos Matos. Além deles, a conselheira da Comissão Europeia DG INTPA F3 – Sistemas Alimentares Sustentáveis e Resilientes, Hannelore Beerlandt, que pôde presenciar como funciona a cafeicultura brasileira, quais os níveis de sustentabilidade, de preservação ambiental, os impactos sociais positivos que a cafeicultura causa, o que contribuirá na argumentação da conselheira, junto à União Europeia, na implementação das regras que já foram aprovadas.
Outro que acompanhou a visita foi o presidente da National Coffee Association USA (Associação da Indústria do Café dos Estados Unidos), Bill Murray. Os Estados Unidos são os maiores consumidores de café do mundo e estão, neste momento, iniciando as discussões para o estabelecimento de regras com foco na sustentabilidade e na restrição a produtos que não respeitam os aspectos ambientais, sociais e de governança.
Murray, que ainda não havia visitado uma região produtora de café no Brasil, veio conhecer a diversidade da cafeicultura, a sustentabilidade e os avanços conquistados nas áreas produtoras, informações vivenciadas que contribuirão na sua atuação como representante do setor e certamente influenciarão as discussões nos EUA.
Também estavam presentes Joseph Degreenia, integrante do Departamento de Agricultura do Governo Americano (USDA), que está no Brasil há 10 meses, e a brasileira Vanusa Nogueira, que é presidente da Organização Internacional do Café. Importante destacar que a OIC é a instituição que atua com papel central nas discussões mundiais que impactam a cafeicultura.
Impressões sobre a cafeicultura capixaba
O subsecretário de Desenvolvimento Rural da Secretaria de Estado da Agricultura, Michel Tesch, que acompanhou a comitiva, comentou sobre as impressões que os representantes de entidades internacionais e executivos tiveram da cafeicultura capixaba, uma das poucas origens, no mundo, que tem o arábica e o conilon em quantidade e qualidade.
“Ficaram muito seguros de que o café não é uma cultura que está associada a uma política de desmatamento, que não degrada o meio ambiente, entendendo que temos um modelo de sustentabilidade para pequenos e médios produtores, e que no Brasil existem cooperativas muito sólidas, sendo o principal caminho para os produtores ganharem em competitividade. Saíram, sobretudo, entusiasmados para levar essa verdade que viram em campo de que a cafeicultura brasileira é sustentável, rentável e de qualidade. Esse posicionamento norteará os caminhos para onde vão as regulamentações futuras”, destacou o secretário.
O Governo do ES disponibilizou um helicóptero para proporcionar aos participantes estrangeiros um sobrevoo na área produtora de café nas montanhas. Tesch comentou que a estratégia foi pensada para terem a dimensão do setor com uma visão macro. A comitiva enalteceu a preservação ambiental e, mesmo com os desafios de relevo, observaram que as propriedades estão conectadas com as áreas de proteção e como o café é sustentável.
“É importante enaltecer e mostrar para o mundo que temos muita confiança nos cafeicultores e cafeicultoras capixabas, pelo que já fizeram de forma integrada com a academia e centros de pesquisa. Temos no Estado um ambiente de cafeicultores empreendedores, capazes e dispostos a adotar tecnologias, mas, fundamentalmente, temos, também, um ambiente de produção e difusão de conhecimento muito ágil e competente. O Espírito Santo está contribuindo de forma significativa para os rumos da cafeicultura mundial”, concluiu o subsecretário de Desenvolvimento Rural do Estado.
Programa Cafeicultura Sustentável
A visita ocorreu uma semana após o lançamento do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo, o mais amplo programa da cafeicultura brasileira, que desenvolverá 27 projetos ao longo dos próximos anos, com a finalidade de elevar a cafeicultura a um novo patamar.
O programa foi estruturado em cinco eixos, dentre eles o ESG – Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), uma temática que está dominando o ambiente de negócios no mundo, além da tecnologia e agregação de valor.
“Nossas metas são ousadas, mas temos confiança que com o arranjo de parcerias que temos no Estado conseguiremos superá-las. O horizonte de planejamento é até 2030 e temos metas para qualidade, produtividade e sustentabilidade, no arábica e conilon”, comentou Tesch.
O programa foi elaborado com base em diversas reuniões, seminários e pesquisas envolvendo diversos elos da cadeia produtiva. O programa contou com investimento do Sebrae, que contratou uma consultoria especializada para mobilizar e organizar a proposta.
Na produtividade, a meta é elevar a média para 35 sacas por hectares no arábica e 60 no conilon. No quesito qualidade, chegar a 4 milhões de sacas de cafés superiores, algo considerado expressivo. Na sustentabilidade, que é a principal meta, é chegar a 20 mil propriedades no conilon e outras 15 mil no arábica, com adequação socioambiental completa.
Redação Campo Vivo