Mercado internacional do café, balizado pelo arábica na Bolsa de Nova York, encerrou o mês de junho com preços firmes
Segue o cenário de pressão de baixa sobre as cotações com a colheita evoluindo no Brasil, devendo confirmar uma produção recorde. Porém, a cautela com a chegada de massas de ar frio no Brasil, que traz o receio de geadas e prejuízos às safras futuras, garantiu uma recuperação às cotações ao final do mês.
NY terminou junho e iniciou julho trabalhando acima da importante linha técnica e psicológica de US$ 1,00 a libra-peso. Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, a previsão de uma sequência de ondas frias no Brasil, nesse começo de julho, agitou o mercado. “Muito embora os modelos meteorológicos indiquem risco baixo de geada, os fundos acabaram voltando às compras. A vulnerabilidade financeira justifica a ansiedade compradora. Esses agentes carregavam ao final do pregão do último dia 23 de junho uma carteira líquida vendida de 7.502 contratos. Por isso, buscaram reduzir rapidamente as suas posições vendidas, o que inflou a ponta compradora e deu condições para a ascensão dos preços”, comenta.
Porém, para o consultor, apesar do recente suspiro de alta, ainda falta consistência fundamental para o café sustentar um forte rally e, com isso, avançar em direção a novas resistências. “Muitos, inclusive, apostam em um desmonte da proteção climática, tão logo seja superado o risco com o frio no Brasil. No entanto, é inegável que a ameaça climática ajudou a quebrar a letargia baixista, que estava tomando da ICE, favorecendo ganhos e ajudando o mercado a se afastar das mínimas e retomar a importante linha psicológica. O clima segue no radar”, adverte.
A colheita de uma safra recorde no Brasil mantém o mercado sob pressão. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima um superávit na oferta mundial de quase 10 milhões de sacas em 2020/21. A pandemia afeta o consumo, reduzindo as perspectivas de crescimento na demanda mundial. Resta saber até quando vão as restrições às economias. A volatilidade cambial e o comportamento do petróleo e outros mercados também mexe muito com o café nas bolsas de futuros.
Barabach comenta que a posição setembro em NY fechou o mês acumulando alta de 2,9%, passando de 98,15 para 101,00 centavos de dólar por libra-peso. Porém, mesmo com essa boa performance em junho, o segundo trimestre do ano foi de perdas, com o preço da bebida recuando 16,3% (gráfico mercado contínuo) na bolsa. E as perdas são ainda mais expressivas tomando o acumulado do primeiro semestre de 2020, onde o preço caiu 22,9% (gráfico mercado contínuo). “Em resumo, os primeiros seis meses de 2020 não foram favoráveis aos preços do café no mercado internacional. O dólar valorizado, a pandemia e a safra recorde no Brasil explicam o movimento dos preços do café ao longo da primeira metade do ano”, conclui.
No mercado físico brasileiro, as atenções estão voltadas para toda essa volatilidade da Bolsa de Nova York, do dólar e com o foco nos cafés novos que estão sendo colhidos. Há uma pressão natural com a entrada da safra. Ao longo do mês, os produtores viram assustados os preços dos cafés arábica melhores caírem bem abaixo de R$ 500,00 a saca, mas agora houve uma reação, seguindo a recuperação de NY e o avanço do dólar.
O dólar comercial fechou junho a R$ 5,436, com alta de 1,8% no acumulado. O café arábica duro com 15% de catação no Sul de Minas caiu de R$ 515,00 a saca na base de compra no final de maio para R$ 510,00 a saca no fim de junho. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, subiu no comparativo de R$ 340,00 para R$ 345,00 a saca.
Lessandro Carvalho / Safras e Mercado