Ele explica este mito muito comum na agricultura
Em 2018, a área irrigada no Brasil foi de 200.750 mil hectares, sendo 92 mil de irrigação por aspersão com pivô central. Um estudo feito pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mostra que o país tem ao total de 4,5 milhões de hectares prontos para receber agricultura irrigada – a área cultivada com irrigação chegaria a 11,5 milhões de hectares, um salto de 65% até 2024.
O país é considerado como um dos únicos capazes de elevar a sua produção agrícola sem comprometer o meio ambiente e atender às demandas de alimentar a população em 2050. O que conta a favor: o Brasil tem 12% das reservas de água doce e algumas das maiores bacias hidrográficas do mundo e estudos projetam que as retiradas de água para fins de irrigação crescerão cerca de 10% até 2050.
Em um artigo sobre “Mitos e Fatos na agricultura irrigada”, o pesquisador da Embrapa Cerrados, Lineu Neiva Rodrigues, avalia que na agricultura irrigada, que é a principal usuária de recursos hídricos, a comunicação é um dos principais entraves para o seu desenvolvimento. “É fundamental melhorar a interlocução do setor agrícola com a sociedade, principalmente no que diz respeito ao uso de recursos hídricos. É preciso divulgar informações corretas com base em dados técnicos e análises consistentes, e é isso que será feito nesta série de artigos”, diz.
Baseado nisso, Rodrigues esclarece um dos principais mitos da atividade: “a irrigação consome 70% da água doce da terra”. Para o pesquisador a palavra “consumir” já indica que é feito o uso de algo que depois acaba, desaparece. No caso do uso da água não é bem assim. Depois de retirada de um manancial e utilizada, a água volta a ficar disponível no ciclo hidrológico depois de um tempo. “A água é renovável, mas sua quantidade é finita”, alerta.
Com relação a outra parte da informação (70% da água doce da terra), os estudos indicam que aproximadamente 71% da superfície terrestre seja coberta com água mas nem todo esse volume está disponível para uso. “Cerca de 97,5% dela está nos oceanos. Dos 2,5% que sobram, 76,8% estão nas calotas polares e geleiras, 22,7% são águas subterrâneas e o 0,5% restante está armazenado em outras fontes hídricas, como os rios”, explica.
No Brasil cerca de 0,6% da água disponível nos rios é utilizada pela irrigação.” A atividade é a principal usuária de recursos hídricos, mas não utiliza 70% da água doce do planeta. A água não pode ser fator limitante do crescimento, sendo, desta forma, necessário fazer tanto a gestão da demanda como da oferta hídrica. Comunicando melhor, acredita-se que o diálogo entre os setores irá melhorar e a agricultura irrigada poderá se desenvolver com mais sustentabilidade, contribuindo para a segurança ambiental, hídrica e alimentar, enquanto se produz alimentos em quantidade e qualidade a custos acessíveis para as pessoas”, destaca o pesquisador.
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