Não se trata de desanimar ninguém e tampouco contribuir para a desvalorização das propriedades que possuem topografia mais acidentada. Fato é que, dia pós dia observa-se as máquinas tomando lugar do ser humano, notadamente no setor primário. Esta substituição está ficando mais barata e menos problemática frente ao contrato de trabalho. As máquinas rendem muito mais e não trazem tantos problemas como a mão de obra contratada formalmente que está repleta de direitos e muito pouco de deveres.
Para aqueles produtores que labutam em terras não mecanizáveis recomenda-se:
a) tentar transformá-las em geradoras de serviços ambientais, concebendo políticas que favoreçam constituição de reservas remuneradas por fundos constituídos por outros produtores maiores, como participação em áreas de reserva legal, visando atender ao novo código florestal. Assim, plantas nativas ocuparão a propriedade, advindo daí o aumento da vazão e melhoria da qualidade das águas;
b) optar por culturas que demandam pouca mão de obra, a exemplo do eucalipto e pecuária extensiva. Mas é fundamental termos um mercado mais dinâmico para a madeira, e uma pecuária bovina mais produtiva, para gerar retorno econômico;
c) optar pela exploração do lazer, caso a unidade produtiva disponha de características ou vocação desse tipo de atividade agroturística.
Mesmo na agricultura familiar de que tanto se fala, observa-se que os jovens ao completarem seus estudos não retornam ao meio rural e assim a vida útil desta agricultura familiar vai durar até que seus pais possam suportar o desgaste do trabalho árduo. Com a idade e o cansaço a tendência é de paralisar com estas atividades que demandam mão de obra braçal.
Admite-se, às vezes, que a engenharia genética pudesse resolver este problema, e não é sonho pensar na obtenção de materiais genéticos que facilitem a mão de obra e assim tornar a agricultura familiar de propriedades declivosas mais rentáveis e competitivas. Atualmente as ferramentas de transgenia, marcadores moleculares etc. poderão alterar altura e formato das plantas visando melhor atender ao emprego de mão de obra manual.
Contudo está muito mais fácil e já vem acontecendo da engenharia genética atender à mecanização e não ao uso mais racional e eficiente da mão de obra manual. Este cenário vem sinalizar que as alternativas para as propriedades não mecanizáveis convergem para a nossa recomendação.
Fica nosso alerta para aqueles que ainda planejam agricultura, apesar de que infelizmente bons planejadores nem isto o nosso País tem mais. Estamos praticando uma agricultura sem rumo, mostrando verdadeiramente um retrocesso de gestão, onde cada um faz o que bem quer em termos de opção nas atividades agropecuárias, com custos ambientais e sociais elevados.
É preciso que se tenha avaliações honestas, objetivos, metas, estratégias e ações para que sejamos o mais realistas possível com nossos produtores. Não podemos mais iludir os inúmeros produtores rurais, notadamente aqueles da agricultura familiar de propriedades não mecanizáveis, que se mostram inviáveis economicamente, considerando suas condições naturais e as alternativas de gerar receita líquida.
Os governos precisam considerar respostas alternativas a esses produtores, em substituição à simples recomendação de vender a propriedade, sem lhes dar um fim racional, ao qual necessariamente precisam estar inseridos, mesmo que no longo prazo. Esta é uma necessidade urgente, senão estaremos apenas reproduzindo a pobreza, e engrossando a periferia das vilas e cidade do interior, para depois chegarem aos grandes centros, já hipertrofiados pela pobreza.
Eng. Agr. Nelson Élio Zanotti
Wolmar Roque Loss

