Nesses últimos dias ocorreu um fenômeno estranho, uma queima de folhas de cafeeiros, que causou preocupação em muitos técnicos e produtores, que nos fizeram chegar fotos mostrando o acontecido. Alguns logo desconfiaram de uma doença nova, talvez uma bacteriose, pois viam um líquido escuro saindo da área afetada.
Ao analisarmos as condições, de como e onde aconteceram os problemas, foi possível correlacionar a queima como sendo de causa fisiológica e não fitopatológica. Essa evidencia foi possível primeiro por que a queima ocorreu em plantas esparsas dentro da lavoura, não em focos, como é de se esperar quando ocorre ataque de um patógeno. Segundo por que o fenômeno ocorreu, principalmente, em regiões mais quentes e secas, ambiente menos favorável às bacterioses. Terceiro por que não foram verificadas lesões típicas, de fungos ou bactérias, não havendo reação do tecido aos possíveis patógenos, na forma de halos amarelados, como é comum nesse tipo de infecção.
Por outro lado, ficou evidente, também, que as lavouras mais novas, as mais sentidas pela estiagem, foram àquelas mais atingidas, dando uma pista de que tinha a ver com o stress das plantas e do seu tecido foliar enfraquecido. A pouca ou nenhuma ocorrência em regiões mais frias ou em áreas sob irrigação reforça a correlação do problema com a forte estiagem dos últimos meses.
As manchas escuras nas folhas, na forma parecida com uma queima, vieram a surgir somente após à ocorrência de chuvas por que os tecidos fracos, quase desidratados, ao serem re-hidratados, pelas chuvas, podem romper suas células, pelas altas concentrações de sólidos antes presentes, em contraste com a nova condição de plena hidratação. Na presença de água as células podem entumecer e se romperem, assim morrendo e formando as áreas escuras. A rachadura de tecidos é comum, em frutos em períodos de chuvas. Os fisiologistas poderão explicar melhor os mecanismos envolvidos na morte dos tecidos, em estudos posteriores.
Deste modo, demonstrada a tendência de que o problema ocorrido, de queima na folhagem de cafeeiros, seja de ordem puramente fisiológica e ligado ao balanço de água/sólidos solúveis nos tecidos, logo deve haver normalização.
J.B. Matiello e M. Jordão Filho – Engs Agrs Fundação Procafé
Igor R. Queiroz e Leandro Andrade – Engs. Agrs. Bolsistas Fundação Procafé
Gerson Lourenço – Tec. Agr. Fundação Procafé
Lucas Ubiali – Estagiário Fundação Procafé