Seguindo o movimento de desvalorização iniciado em setembro, os preços do leite no campo registraram novas quedas em novembro. De acordo com pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a “Média Brasil” líquida de novembro (referente à captação de outubro) chegou a R$ 1,3624/litro, diminuição de oito centavos ou de 5,4% em relação ao mês anterior. Esse foi o recuo mais intenso desde outubro do ano passado, quando a queda chegou a 7,7%, em termos reais (valores foram deflacionados pelo IPCA de outubro/18).
A diminuição dos preços esteve atrelada à maior captação em outubro, favorecida pelo retorno das chuvas e pela consequente melhora das pastagens – principalmente no Sudeste e Centro-Oeste. A demanda retraída, no entanto, segue influenciando com força os valores no campo. Há alguns meses, observa-se um consumo enfraquecido de lácteos, associado à lenta recuperação econômica. Por conta da necessidade de realizar promoções para garantir liquidez, houve redução nos valores negociados para todos os derivados acompanhados na pesquisa quinzenal do Cepea.
O mercado de leite UHT é muito importante para a formação do preço ao produtor – nota-se que as cotações praticadas para o derivado num mês influenciam as negociações no campo no mês seguinte. Por isso, as variações dos preços ao produtor em novembro estão relacionadas ao desempenho das vendas do UHT em outubro. Vale lembrar que, de setembro para outubro, o preço médio do UHT recebido pela indústria no estado de São Paulo recuou 4,6% (quase 12 centavos), chegando a R$ 2,49/litro, segundo pesquisa diária do Cepea realizada com o apoio da OCB.
As perspectivas para os próximos meses são de continuidade no movimento de queda dos preços ao produtor, mas com maior intensidade. Além da progressiva elevação da captação (que sazonalmente atinge pico em dezembro), as negociações de UHT no correr de novembro foram pressionadas pelos canais de distribuição. A queda acumulada neste mês (até o dia 28) chegou a 12,7%, o que pode resultar em diminuição de mais de 35 centavos na média mensal do UHT (que, por enquanto, está em R$ 2,12/litro). Essa desvalorização deve intensificar o recuo do preço do leite ao produtor de dezembro (referente à captação de novembro).
Colaboradores consultados pelo Cepea informam que os estoques de UHT estão normalizados e que o consumo, na ponta final da cadeia, não está menor do que no mesmo período do ano passado. Essas observações abrem espaço para argumentar que a expressiva queda do UHT em novembro também ocorre por conta de especulação dos agentes.
Para os atacados e varejos, promoções do UHT chamam a atenção e atraem os consumidores – vale lembrar que, neste ano, a greve dos caminhoneiros causou desabastecimento e elevou os preços do derivado em 20,2% entre junho e julho. O UHT é o lácteo mais consumido do Brasil e, por isso, é um item estratégico para os canais de distribuição. Nesse momento, fica evidente que não é apenas um possível enfraquecimento da demanda por lácteos que tem levado à queda nos preços do UHT, mas também a desaceleração do consumo em geral e a tentativa dos canais de distribuição de aquecer a demanda via redução de preços de itens importantes da cesta de alimentação do brasileiro.
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