Quinze países da União Europeia (UE), Suíça e Hong Kong foram afetados pela crise dos ovos contaminados – anunciou a Comissão Europeia nesta sexta-feira (11), segundo a agência de notícias AFP. Na UE, os países atingidos são Bélgica, Holanda, Alemanha, França, Suécia, Reino Unido, Áustria, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Polônia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia e Dinamarca, disse um porta-voz do Executivo europeu à imprensa.Segundo ele, a comissão fará uma reunião com representantes desses países, em 26 de setembro, para “tirar as lições” da crise.
O escândalo teve origem em consequência do uso de fipronil, um inseticida estritamente proibido nos criadouros de galinhas, por parte de empresas de desinfecção que trabalhavam em explorações agrícolas da Holanda, Bélgica e Alemanha. O escândalo se tornou maior na semana passada com a retirada de milhões de ovos de supermercados na Alemanha e na Holanda. A marca alemã Aldi, onde as gôndolas de ovos ficaram vazias durante uma semana, anunciou que voltou a distribuir o produto nesta sexta-feira.
No capítulo judicial do escândalo, dois diretores da “empresa que provavelmente aplicou o produto nos criadouros avícolas” foram detidos na quinta-feira na Holanda, segundo a Procuradoria, que não especificou o nome da companhia. A imprensa holandesa informou que trata-se da ChickFriend, muito questionada no setor. As autoridades realizaram oito operações de busca na Holanda e a Justiça também questiona o “comerciante” que distribuiu o fipronil no país.
Na Bélgica, foram realizadas 11 operações de busca e apreensão “em todo o país” no âmbito da investigação, que já implica 26 pessoas e empresas suspeitas, segundo a Procuradoria da Antuérpia. O Ministério Público destacou que “cerca de 6.000 litros de produtos proibidos” – de fipronil, segundo a imprensa – foram apreendidos em julho em uma empresa belga. A Justiça não revelou o nome da empresa, mas esta foi identificada como o distribuidor de produtos sanitários para criadouros Poultry-Vision, na origem do escândalo junto com a ChickFriend, segundo os jornais.
O diretor da Poultry-Vision foi interrogado em julho e depois “foi liberado sob estritas condições”, afirmou a Procuradoria, que “leva os fatos muito a sério, dada a sua gravidade, amplitude, caráter organizado e contexto internacional”.
“Devemos analisar de modo detalhado o que aconteceu (…) que nossos especialistas identifiquem onde podem ter surgido os problemas para que tenhamos a capacidade de sentar e discutir soluções e os passos a tomar”, disse Andiukaitis.
O fipronil é um inseticida comumente usado que está presente em produtos veterinários utilizados para os animais de estimação contra pulgas, carrapatos e ácaros. Seu uso é proibido em animais destinados à cadeia alimentar na União Europeia. Em doses elevadas pode provocar problemas neurológicos e vômitos. A princípio, os ovos contaminados representam riscos limitados para a saúde do consumidor. Poucos lotes contaminados que foram retirados dos mercados concentravam em apenas um ovo doses superiores a 0,54 mg de fipronil (o limite para uma pessoa de 60 kg calculado pela UE) e a imensa maioria apresentava taxas inferiores.
França e Holanda
O ministro de Agricultura da França, Stéphane Travert, confirmou nesta sexta-feira que mais de 200 mil ovos contaminados com fipronil, importados de Bélgica e Holanda, foram vendidos no mercado interno, ainda que tenha descartado qualquer risco para a saúde humana. Travert disse que em abril passado já foi vendido um lote de 196 mil ovos contaminados sem que houvesse “impacto para a saúde” dos consumidores.
Em declarações à emissora “RMC”, o ministro declarou que “os níveis de contaminação não representam um risco para o consumidor”, ainda que tenha convidado as empresas a que, se preferirem, os destruam ou os descartem. Por enquanto, esses ovos não podem ser vendidos à espera da investigação encarregada à Agência Francesa de Segurança Alimentar. Travert falou que, no caso de os resultados da investigação serem negativos, as empresas que receberam os lotes de ovos contaminados poderão colocá-los de novo à venda.
Criticado pelos vizinhos europeus, o governo holandês reconheceu que foram cometidos “erros” na gestão do escândalo dos ovos contaminados, mas se negou a admitir qualquer acusação de negligência. “Em qualquer crise se cometem erros. É totalmente o caso nesta”, afirmou a ministra de Saúde da Holanda, Edith Schippers, em um programa da televisão holandesa divulgado na quinta-feira à noite.
A ministra alegou, porém, que o governo “não podia burlar o tempo da investigação judicial e das análises” das amostras extraídas. Muitos condenam a Holanda por não ter transmitido antes a informação sobre os ovos contaminados com pesticida.
“Estávamos a par de um aviso sobre a presença de fipronil em uma granja de galinhas poedeiras em novembro de 2016, mas não havia nenhuma indicação sobre a descoberta de fipronil nos ovos nesse momento”, insistiu a ministra, em sua primeira declaração pública desde que o caso veio à tona na semana passada.
A gestão desse aviso por parte de Haia suscitou críticas de autoridades políticas de vários países europeus afetados pela crise.
“A cooperação deve ser melhor no futuro”, declarou na quarta-feira (9) o ministro francês da Agricultura, enquanto seu homólogo belga, Denis Ducarme, acusou a Holanda de tratar com negligência a informação anônima recebida em 2016.
G1 *Com AFP e Efe