Uma equipe multidisciplinar disponibilizou noções sobre parasitoses, monitoramento e prevenção de doenças de peixes, inclusive, com uma ferramenta para prevenir doenças, mortalidade e auxiliar na produção com qualidade. Esse monitoramento auxilia o técnico ou piscicultor a acompanhar a saúde dos peixes e a tomar decisões relacionadas ao manejo sanitário.
Conforme a pesquisadora Márcia Ishikawa, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e uma das autoras do estudo, “os peixes cultivados podem apresentar uma fauna parasitária considerável nas brânquias e muco e não manifestar qualquer sintoma clínico de doenças, mas que podem ser importantes como indicador sobre a qualidade do manejo sanitário ou mesmo da sua saúde. São produzidos em um ambiente cuja visualização de qualquer alteração no comportamento ou sintoma pode ser observada ou não. Por isso, é importante padronizar metodologias que facilitem esse monitoramento”.
Para obtenção da amostragem, não é necessário fazer a despesca total ou capturar uma amostra muito grande de exemplares – pode ser de três a cinco peixes, de acordo com o tamanho deles e do tanque/viveiro. Quando os peixes tiverem aproximadamente 60g utiliza-se uma amostragem de cinco animais por tanque/viveiro ou lago; quando tiverem acima desse peso, utiliza-se uma amostragem de 3 animais por tanque/viveiro.
Devem ser acondicionados vivos, em sacos plásticos próprios para transporte, com água do local, e levados imediatamente ao laboratório para as análises parasitológicas. Obtém-se o muco dos peixes por método de raspagem, ou seja, realizar raspado por toda a superfície do corpo do peixe, utilizando uma lâmina de vidro de microscopia. Após a coleta de todos os peixes do mesmo tanque, o material pode ser examinado em microscopia óptica.
Em seguida, realiza-se a anestesia dos peixes e só depois, a biometria de cada animal. Fragmentos de brânquias devem ser colocados individualmente em uma lâmina para microscopia, ou seja, uma lâmina por peixe.
Durante exames de rotina, este procedimento pode ser realizado com mais agilidade. Pode-se conter o peixe com ajuda de um pano úmido e fazer a coleta do muco em um frasco, ou realizar apenas o esfregaço do muco em uma lâmina, e em seguida, com muito cuidado, realizar outro esfregaço da brânquia e levar o material imediatamente para exame em microscopia óptica, sem precisar eutanasiá-lo. Neste caso, ele pode ser devolvido ao tanque. Todavia, este procedimento com peixes muito pequenos dificulta o acesso às brânquias, sendo necessário utilizar anestésicos e a eutanásia.
Como interpretar os resultados
O exame diretamente a fresco em microscopia de luz comum é mais fácil de ser realizado, pois a maioria dos parasitos apresentam movimentos característicos que auxiliam a sua visualização. No entanto, é necessário um microscópio instalado próximo do local da coleta.
Para interpretar esses exames, é necessário treinamento para identificação básica dos principais parasitos que podem ser encontrados nas brânquias e muco dos peixes. Em algumas regiões do Brasil, Monogenoidea e tricodinídeos têm sido os ectoparasitos mais observados. Representam potencial de patogenicidade quando ocorre um desequilíbrio na relação ambiente-hospedeiro-parasito. No entanto, estes mesmos parasitos podem ser caracterizados como indicadores de qualidade do ambiente de cultivo, pois a sua presença em diferentes intensidades e diversidades podem ser decorrentes da qualidade do ambiente, ou mesmo da saúde do peixe, sendo possível fazer a relação entre estes.
A identificação não precisa ser muito precisa – por exemplo, considerando os parasitos monogenéticos em brânquias, a observação de um ou dois espécimes na mesma lâmina não representa grandes problemas. No entanto, se houver três ou mais parasitos na mesma lâmina de pelo menos dois peixes do mesmo tanque/viveiro ou lago, significa que algo pode estar errado nas condições ambientais, ou que os peixes não estão muito saudáveis, e assim será necessário avaliar todo o sistema com mais atenção.
Uma quantidade muito grande de parasitos, acima de 10 por lâmina, demonstra que a saúde dos peixes precisa de atenção especial, e se possível, um especialista deve efetuar um diagnóstico mais preciso e orientar um tratamento específico. Não é necessário esperar a ocorrência de mortalidade de peixes para que um especialista em diagnóstico de doenças seja acionado.
Essa metodologia, simples e prática, não deve ser utilizada em caso de ocorrência de mortalidade ou quando os peixes já se encontram com sintomas de doenças. Essa técnica serve para complementar a rotina nas pisciculturas e tem o objetivo de auxiliar o piscicultor, ou técnico, a identificar se algo precisa ser ajustado no manejo sanitário, ou se é o momento certo para encaminhar amostras a um laboratório especializado, antes mesmo que o problema se instale.
Os estudos foram desenvolvidos em parceria entre a Embrapa Meio Ambiente, a Associação de Produtores de Itapira e Região (ASPI) e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati).
O trabalho completo pode ser acessado em:
http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/145131/1/2016CIT01.pdf