As relações comerciais entre Brasil e China começam a ter uma nova cara no setor de alimentos. Pautada quase exclusivamente pela soja nos últimos anos, o comércio bilateral está se diversificando. Não que a soja esteja perdendo espaço. Ao contrário, os chineses continuam dependentes cada vez mais da oleaginosa. Mas carnes, açúcar, milho e até óleos vegetais começam a dar ganhos significativas para os brasileiros. Os chineses já não são apenas o principal mercado paras a soja brasileira, mas também para carnes e açúcar.
Nos sete primeiros meses do ano passado, a soja representava 92% do total de produtos da cadeia de alimentos que o Brasil exportava para a China. No mesmo período deste ano, essa participação recuou para 87%. Já as carnes, com a abertura do mercado chinês, tiveram participação elevada para 7% no setor de alimentos. No ano passado, era de 3%.
Os brasileiros alcançaram receitas recordes de US$ 1 bilhão nos sete primeiros meses deste ano com a carne exportada para o mercado chinês. Essas receitas superam em 127% as de igual período do ano passado, quando o país já ganhava força nesse mercado. Em relação a 2014, a evolução é de 285%.
O açúcar brasileiro também ganhou maior presença no mercado da China. As exportações dos sete primeiros meses deste ano somam US$ 509 milhões, ante US$ 382 milhões em igual período de 2015. O produto já representa 4% das exportações de alimentos para o país asiático. A dependência chinesa do Brasil no setor de açúcar deverá aumentar nos próximos anos. Os brasileiros são líderes nessa indústria, que entra em um ciclo de demanda mundial acima da produção.
O Brasil ganhou espaço também nas vendas de óleos vegetais. Embora os chineses inibam a entrada desses produtos, para estimular sua indústria doméstica, as exportações de óleo de soja cresceram neste ano. O Brasil descobriu também o mercado chinês para óleo de amendoim.
O milho brasileiro começou a ganhar terreno. Embora ainda em volume financeiro pequeno –US$ 11 milhões no ano– o aumento foi de 60%. O crescimento da demanda interna da China por esse cereal e o da produção brasileira colocará o Brasil como mais uma opção de mercado.
As aberturas de mercados entre Brasil e China darão novos caminhos para os brasileiros. As exportações totais do Brasil no setor de alimentos somaram US$ 14 bilhões até julho e já se equiparam às dos norte-americanos, que atingem US$ 26 bilhões por ano.
O crescimento da população urbana na China e a expansão de uma classe média com renda maior levaram a uma diversificação de consumo. Os consumidores têm se interessado por mais proteínas e alimentos de maior valor agregado. Essa necessidade chinesa deveria estar mais no radar brasileiro.
A União Europeia, por exemplo, elevou em 34% as exportações de manteiga para os chineses nos cinco primeiros meses deste ano. Além disso, pôs 24% mais queijo e 87% mais leite condensado nas mesas chinesas. Estudos indicam que a evolução do consumo de suco, bebidas e frutas na China vai superar em 2% a capacidade de produção nos próximos anos.
As exportações brasileiras de soja para a China subiram para o recorde de 33,6 milhões de toneladas até julho, com receitas de US$ 12,3 bilhões. Já as de carnes avançaram para 450 mil toneladas, com receitas de US$ 1 bilhão. A liderança ficou com o frango, cujas receitas somaram US$ 529 milhões.
Para Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), “os chineses estão indo às compras, verificaram a qualidade e as condições sanitárias dos produtos brasileiros, e gostaram”. Era impensável até pouco tempo que os chineses iriam assumir o posto de maiores importadores das carnes de frango e suínas brasileiras, afirmou o executivo.
Brasil Agro