Potes de argila são alternativa de irrigação de baixo custo no Brasil e na África

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hortaliças_estufa(G)A utilização de potes de argila, muito parecidos com aqueles usados para armazenar água potável nas cozinhas de fazendas e cidades do interior, está sendo validada como tecnologia social para irrigação de baixo custo e uso racional dos recursos hídricos no Brasil e na África. Por meio de uma parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental (PA) e a Universidade de Makelle, da Etiópia, a tecnologia foi estudada e posteriormente implantada na região norte da Etiópia, sendo incorporada como política pública para agricultura familiar daquele país. No Brasil, o projeto foi batizado de IrrigaPote com pesquisas conduzidas em várias regiões do Estado do Pará e já apresenta resultados positivos em fruticultura e cultivo de hortaliças.

A pesquisadora da Embrapa Lucieta Guerreiro Martorano, responsável pelo projeto no Brasil, explica que tecnologia permite uma interação solo-planta-atmosfera de forma a garantir a oferta de água no solo em períodos de estiagem prolongada, tendo como foco a agricultura familiar.

A pesquisadora esclarece ainda que esse sistema de irrigação é relativamente simples e há séculos vem sendo utilizado em diversos países sem, no entanto, o estabelecimento de protocolos, testes e pesquisas de eficiência necessárias para uma validação.

Para a instalação do equipamento de irrigação, são necessários  potes de barro (argila), além de tubos, flutuadores, conectores, higrômetros, calhas e tanques de água. Na África, a água da chuva era coletada pelas calhas, mas os agricultores tinham de levar o líquido até as áreas de cultivo e abastecer os potes que são enterrados juntos às plantas, aumentando o trabalho e desgaste físico no campo.

Mesmo sendo eficiente para oferta de água, a observação desse trabalho extenuante incomodava a pesquisadora e ela partiu para um novo experimento, o de automatizar todo processo, mas com equipamentos simples, que continuassem a garantir à viabilidade econômica do sistema. “No Brasil, a tecnologia foi testada já com o processo todo automatizado e deve ser patenteado ao longo de 2017, ano em que se encerra o projeto”, adianta Lucieta.

Os potes são enterrados em covas junto às plantas a serem irrigadas e recebem, por meio de tubos, a água captada da chuva. A cientista conta que a diferença entre modelo africano e o brasileiro é que aqui a água segue automaticamente do reservatório para os potes, por meio do sistema de boias, semelhantes ao utilizado nas descargas dos banheiros ou caixas d’água.

A partir daí a natureza assume, e a planta vai prolongar suas raízes, que envolvem os potes, sugando a água necessária somente no período de estiagem. “Quando há oferta hídrica, com as chuvas, por exemplo, a água do pote permanece intacta”, garante a pesquisadora.

Ela explica que isso ocorre porque quando o solo seca, a força gravitacional faz com que a água condense na superfície do pote, que é feito de barro − uma substância porosa − e, por isso, a planta emite a raiz até o pote e vem captar a água que está condensada na superfície.

Além de uma tecnologia social de baixo custo e fácil adoção pelos agricultores familiares, o projeto IrrigaPote possui diversos componentes de sustentabilidade ambiental e social. A pesquisadora lembra que a agricultura é responsável por até 70% do consumo da água potável mundial e que esse recurso é limitado, até mesmo em uma região como a amazônica. “O IrrigaPote aproveita a água da chuva e seu sistema não utiliza energia elétrica, resultando em economia para o agricultor que não precisa arcar com a despesa extra da conta de luz. Também ganha o meio ambiente no uso eficiente do recurso hídrico e no serviço ambiental como provisão de água”, defende a pesquisadora.

Embrapa

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