Embrapa e Ceplac criam unidade mista de pesquisa e inovação do cacau

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Parceria vai resultar também na elaboração de portfólio dedicado exclusivamente a projetos com essa cultura

A Embrapa e a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) estão em fase final de criação de uma Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (Umipi) com sede no Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), em Ilhéus (BA), que vai centralizar os estudos científicos na área, abrangendo também os estados do Pará e Rondônia. O objetivo é fortalecer as ações de PD&I em prol da cadeia produtiva de cacau no Brasil, o que envolve a criação de um portfólio para garantir os trabalhos em parceria já existentes e incentivar a formação de novos projetos voltados à cultura.

A criação da Umipi foi uma decisão da Presidência da Embrapa para atender à demanda do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de reforçar o setor produtivo cacaueiro.

A nova unidade vai trabalhar em quatro frentes: recursos genéticos, melhoramento genético, manejo do cacau e controle de doenças. Quatro Unidades Descentralizadas serão envolvidas inicialmente: Mandioca e Fruticultura, Amazônia Oriental, Rondônia e Recursos Genéticos e Biotecnologia, mas o objetivo é estender a participação para outras UDs.

Essas áreas de atuação foram definidas a partir de visitas técnicas de uma comissão de integrantes do Mapa, Ceplac e Embrapa às três principais regiões produtoras de cacau no Brasil: Bahia (Ilhéus), Rondônia (Ouro Preto do Oeste) e Pará (Belém e Marituba).

Segundo o secretário de P&D, Bruno Brasil, e a gerente de Inteligência e Planejamento da Programação da SPD, Adriana Accioly, que fizeram parte do grupo, as visitas permitiram identificar as principais lacunas e oportunidades de contribuição da Embrapa para impulsionar a cacauicultura nacional. Participaram também o diretor da Ceplac, Waldeck Júnior; o diretor do Departamento de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas do Mapa, Orlando Castro; e os pesquisadores da Embrapa Carlos Ledo (Mandioca e Fruticultura), Walkymário Lemos (Amazônia Oriental) e Frederico Botelho (Rondônia).

A queda de um império cacaueiro

O Brasil, que já foi o segundo maior exportador de cacau, hoje ocupa a sétima posição no mercado mundial. Grande parte dessa queda se deve à incidência na região cacaueira da Bahia do fungo Moniliophtora perniciosa, causador da doença conhecida como vassoura-de-bruxa.

Segundo o coordenador-geral de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Ceplac, Manfred Müller, essa doença levou a uma derrocada drástica da produção brasileira, de 450 mil toneladas na década de 1980 para 240 mil em 2019, de acordo com dados do IBGE. “A Bahia, severamente afetada pela vassoura-de-bruxa, não se recuperou até hoje. Atualmente é a segunda maior região produtora em nível nacional, com cerca de 110 mil toneladas, atrás do Pará, que produz aproximadamente 111 mil toneladas”, explica. Em seguida, aparecem no ranking Espírito Santo, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso.

Associada à queda de preços, a praga foi responsável pelo baque sofrido pelo Brasil no mercado mundial.

Luz no fim do túnel

A esperança para o Brasil recuperar seu lugar de destaque no mercado internacional está no nicho de produtos sofisticados. Segundo o documento “Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira”, os produtos de maior valor agregado, como o chocolate fino, serão fundamentais para impulsionar a participação do país no ranking mundial de produção.

A expectativa da Embrapa e da Ceplac é que a nova Umipi contribua com soluções tecnológicas para impulsionar a cacauicultura nacional. As pesquisas de recursos genéticos disponibilizam uma base genética, a partir da qual será possível identificar variedades com características de interesse agronômico para utilização em programas de melhoramento. O objetivo é direcionar essas iniciativas para desenvolver cultivares resistentes às doenças fúngicas (vassoura-de-bruxa e monilíase) e com potencial de valor agregado para atender ao mercado de chocolates finos. “Ou seja, são áreas que se entrelaçam e se somam em prol do crescimento cadeia produtiva do cacau no Brasil”, pontua Müller.

A gerente de Articulação de Redes de P&D da SPD, Mírian Eira, explica que por isso a nova unidade deve incluir pesquisas das três regiões, pois cada uma delas possui bancos genéticos com características diferentes, além de acessos importados de outros países. “A diversidade genética é fundamental para o êxito dos trabalhos de melhoramento”, complementa.

Müller está confiante nos bons resultados da cooperação entre a Embrapa e a Ceplac. “Juntando a expertise da Ceplac no cultivo do cacaueiro com o conhecimento da Embrapa, teremos um ganho significativo. O maior beneficiário será o setor produtivo do cacau”, conclui.

Segundo Mírian Eira, o acordo de cooperação técnica (ACT) entre as duas instituições, que garante o estabelecimento da Umipi, já está na assessoria jurídica do Mapa e deverá ser assinado em breve.

O portfólio Cacau: novidades na composição

Paralelamente à criação da Umipi, está sendo estabelecido o portfólio Cacau. A iniciativa é resultado de um grupo de trabalho formado por representantes de ambas as instituições, com o objetivo de elaborar propostas de projetos a serem custeados pelo Mapa. Os projetos serão voltados a quatro temas prioritários: preservação de recursos genéticos de cacau; melhoramento genético do cacau; geração de soluções tecnológicas para o controle da monilíase e da vassoura-de-bruxa; e desenvolvimento de processos relacionados ao manejo do cacau no âmbito de sistemas agroflorestais e integrados.

Mercado do Cacau

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