ESPECIAL PIMENTA-DO-REINO: Nutrição

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Matéria publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL PIMENTA-DO-REINO (Edição 49 – Dez/22 Jan/23)


Manejo correto garante produtividade e qualidade da pimenta

Ailton Geraldo Dias

Introduzida no Brasil vinda da Índia, a pimenta-do-reino é uma das principais especiarias do mundo. E também é daquelas culturas que precisa ser acompanhada com atenção, já que essa é uma planta considerada perene, suscetível a doenças e pragas. Segundo o engenheiro agrônomo e consultor, Ailton Geraldo Dias, nesta planta é comum observar também a presença de uma doença de grande importância chamada Fusariose. “Outros fungos, além do Fusarium sp, podem provocar doenças na pimenteira. Dentre estes, vale citar, pela importância, o Colletotrichum gloesporioides, que é o agente causal da doença chamada Antracnose. Sobre as pragas, as de maior importância são as cochonilhas e os pulgões”, destacou.

De acordo com Dias, uma boa notícia para os produtores que cultivam ou pensam em investir nessa cultura, é que há protocolos de manejo para as pragas e as doenças da pimenteira-do-reino que levam ao êxito e auxiliam nesses cuidados. E é especialmente para esses produtores que estão em processo de iniciar o investimento na cultura, que o consultor orientou que nas condições de cultivo no Estado do Espírito Santo e extremo Sul da Bahia, é importante considerar a necessidade da irrigação como forma de viabilizar o programa nutricional. “A pimenteira-do-reino tem uma demanda nutricional que envolve, principalmente, fontes nitrogenadas, fosfatadas, potássicas. Além destes nutrientes, é necessário aportes de Enxofre, de Cálcio e de Magnésio e também de micronutrientes. Para os iniciantes, recomendamos que procurem os escritórios locais do Incaper para orientação correta quanto ao uso dos fertilizantes”, alerta.

Ainda segundo o agrônomo, os produtores que já trabalham com a cultura precisam estar atentos sobre os cuidados com a planta, já que esta requer cuidados desde o plantio até a fase adulta. “Na implantação é indispensável o preparo correto do solo para que as mudas, após o plantio, possam se desenvolver de forma vigorosa. Como a pimenteira-do-reino é uma planta tipo “trepadeira”, é necessário o uso de tutores, podendo ser do tipo “tutor morto” (com o uso de estacas de eucalipto) ou do tipo “tutor vivo” (com o uso, de variadas plantas: gliricídia (Gliricidia sepium); neem (Azadirachta indica); e, moringa (Moringa oleífera). Em ambos os tipos de tutores, a pimenteira-do-reino precisa ser ancorada com amarrios, à medida que a planta vai se desenvolvendo”, pontuou.

De forma geral, o pesquisador ressalta que os cuidados de manejo agronômico também são importantes: o controle de plantas infestantes, a adoção de protocolos para o controle de pragas e doenças, protocolo para a gestão da umidade no solo e protocolo para o manejo nutricional, sempre amparado em critérios agronômicos que considerem a correção do solo e o balanço nutricional no tecido vegetal.

Engenheiro agrônomo, consultor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/ES) em Pipericultura, Welington Secundino

O engenheiro agrônomo, consultor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/ES) em Pipericultura, e que já atuou como coordenador estadual do programa de Pipericultura entre 2003 e 2020, Wellington Secundino, também destaca sobre a perenidade da cultura da pimenta-do-reino, reforçando a atenção com a fusariose e nematóides e a virose (CMV-Pn). “A pimenteira é uma cultura perene e sujeita ao ataque de inúmeras pragas como qualquer outra, mas todas elas podem ser evitadas adquirindo mudas de boa procedência, oriundas de viveiros registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e sempre efetuar a análise de solo para detecção da população de nematóides”, destacou Secundino.

Ainda segundo o consultor, a virose ou CMV-Pn (vírus do mosaico do pepino), é transmitida por pulgões que se reproduzem muito rápido em condições climáticas de altas temperaturas e umidade. A fusariose, causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. Piperis, ocorre principalmente em período de altas precipitações, causando excesso de umidade no solo, principalmente em terrenos muito compactados (mal preparados). O excesso de adubos nitrogenados e o stresse hídrico também favorecem o aparecimento dos sintomas. Já os nematóides, que ocorrem com mais frequência e parasitam as pimenteiras, são das espécies Meloidogyne incógnita e M. javanica, que podem ser detectados com uma simples e de baixo custo, análise de amostra de solos (específica para nematóides), evitando-se o plantio em áreas com altas populações. “Existem inúmeras outras pragas, mas estas acima são aquelas em que a pimenteira se mostra mais sensível e susceptível e podem ser fatais à uma lavoura de pimenta-do-reino, pelo difícil controle, pois há poucos produtos registrados no mercado e o alto custo”, diz Wellington.

Secundino também orientou os produtores que hoje pensam investir na cultura da pimenta-do-reino sobre os cuidados necessários e as recomendações que na sua visão como consultor, é o mais indicado. “Fazer a seleção da área para o plantio: “para quem vai iniciar a atividade, em termos de nutrição, escolher a melhor área da propriedade, que tenha um solo de textura média facilita o manejo nutricional via fertirrigação; efetuar a análise química do solo nas profundidades de 0-20 e de 20-40 cm de profundidade; realizar a correção do solo através da calagem e fosfatagem se as análises indicarem; analisar como está a matéria orgânica. Se estiver com baixo teor, recomendo acrescentar as quantidades também exigidas para uma boa produtividade”, orienta o agrônomo, consultor do Senar.

Para o produtor que já investe nessa cultura há anos, Secundino destacou que além dos tratos normais de manutenção anual, como adubação, limpeza, poda, controles fitossanitários, colheita e secagem, o grande gargalo no momento nesta cadeia produtiva é a qualidade final do produto que já não atende as exigências internacionais, causando perdas dos principais mercados mundiais consumidores (Europa e Estados Unidos). “Considerando que 90% da nossa produção é exportada e que o nosso mercado interno não tem condições de absorver essa produção, a única opção é implementar as ações das Boas Práticas Agrícolas (BPA) em todas as etapas do processo, produzindo um produto de qualidade, sem resíduos químicos acima dos níveis permitidos, antracnona, salmonela e micotoxinas, que são altamente nocivos à saúde”, afirma.

Redação Campo Vivo

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