ESPECIAL PIMENTA-DO-REINO: Genética

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Matéria publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL PIMENTA-DO-REINO (Edição 49 – Dez/22 Jan/23)


Três variedades são mais utilizadas no Espírito Santo

O Espírito Santo produz em torno de quatro mil toneladas de pimenta-do-reino por hectare, uma média quase o dobro do estado do Pará, segundo maior produtor do fruto. Entre os fatores que contribuíram para atingir esse marco tão importante para a agricultura está no investimento em pesquisas e testes com diferentes variedades de pimenta, a evolução no manejo do solo, utilização de tecnologias como (ferti)irrigação, além da grande dedicação e aptidão dos agricultores capixabas.

Pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), especialista na área de genética e melhoramento de plantas, Lúcio de Oliveira Arantes

O pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), especialista na área de genética e melhoramento de plantas, Lúcio de Oliveira Arantes, diz que são três as principais variedades de pimenta-do-reino cultivadas no Espírito Santo, sendo uma delas a Bragantina, introduzida da Índia no final da década de 1970. “Essa variedade é fruto do programa de melhoramento genético indiano e é um híbrido entre as variedades ‘Uthirankotta’ e ‘Cheriyakaniakadan’. Foi lançado em 1966 na Índia com o nome de Panniyur-1 e se popularizou na década de 1990, tornando-se a mais plantada entre o final da década de 1990 e início da década de 2000. Essa é uma pimenta bastante produtiva e de boa qualidade. Foi recomendada para uso no Brasil no final da década de 80, após quase 10 anos de estudos pelas agências de pesquisa agropecuária estadual e nacional, Incaper (então Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária – EMCAPA) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)”, explica.

Outra variedade é a Guajarina, também introduzida da Índia no final da década de 70, sendo uma variedade tradicional indiana (não advinda do programa de melhoramento genético – mas recomendada para o plantio no país). “Essa foi bastante popular na metade da década de 80 se popularizando até meados dos anos 2000. Apesar de bastante produtiva, foi sendo substituída pela cultivar ‘Bragantina’ pois esta possui cachos maiores, elevando o rendimento da mão de obra no momento da colheita. Em alguns experimentos, são relatadas produtividades superiores à da cultivar ‘Bragantina’, em condições de sequeiro. Essa produz uma pimenta de boa qualidade, e bem equilibrada quanto a teores de óleo essencial, piperina e oleoresina”, destaca.


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Já a outra variedade é chamada Kotanadan, Kutunadan e Tukunadan e, às vezes, algum destes seguidos do complemento “do Broto Branco”. De acordo com o pesquisador do Incaper, atualmente, há no Espírito Santo um clone (provavelmente uma seleção numa população de ‘Bragantina’) que tem recebido as denominações citadas acima. “Produtores relatam que esta é uma variedade um pouco mais precoce e até mais vigorosa em relação à ‘Bragantina’. Já outros reclamam de morte precoce de plantas, demonstrando arrependimento no plantio”, diz.
Segundo Arantes, este foi um clone selecionado pelo agricultor Rafael Zordan, por volta do ano de 2005 em Jaguaré, distrito de Córrego do Giral, que relatou que duas plantas diferentes das demais (variedade ‘Bragantina’), apresentavam folhas mais verdes, eram mais vigorosas e produtivas que as demais da lavoura e começou a multiplicá-la. “As duas originaram 30 e, destas 30, centenas foram obtidas. Atualmente deve haver centenas de milhares em campo, talvez mais de um milhão”, acredita o pesquisador.

Sobre a vida útil dessas variedades, especialmente em relação a pragas, Arantes destaca que todas as cultivares disponíveis no território nacional hoje são suscetíveis à principal doença da pimenta-do-reino: fusariose. “Não temos nenhuma cultivar que seja resistente à fusariose, inclusive mundialmente falando, que eu saiba, não há relatos de variedades resistentes a essa doença”, diz, acrescentando que um dos desafios enfrentado pelo homem do campo são as viroses. “O que observamos é que a cultivar ‘Bragantina’, por exemplo, tem a tolerância um pouco maior que as demais. O que acreditamos como hipótese é de que talvez ela permita uma menor propagação das partículas virais dentro dela, e dessa forma vá sofrendo menos ao longo do tempo. Sendo assim, conseguimos ter lavouras que mesmo com a presença de virose, quando bem tratadas, conseguem produzir e resultar em rendimentos satisfatórios”, explica o especialista do Incaper.

Outra doença que merece ser observada é a “Phytophthora”, que dá uma podridão também, ocasionada principalmente quando você tem um encharcamento de água no solo. “O viveiro que molha demais as plantas e mantém um período muito longo desse encharcamento, pode ter problemas relacionados a essa doença, o que acontece também em lavouras de campo. Alguns colegas relatam que a ocorrência da phytophthora e da fusariose está relacionada a baixos teores de matéria orgânica no solo, ou seja, tem alguma relação com o manejo que privilegia um aumento da matéria orgânica contribuindo para uma maior vida desse solo, mais organismos vivendo ali. Isso privilegia que alguns organismos que são antagonistas há esses organismos que causam a doença, também ocorram naquele solo, reduzindo a incidência da doença”, diz Lucio.

PRAGAS

Já sobre as pragas, principalmente insetos, Arantes disse que não há resistência das variedades para isso. De acordo com o agrônomo, em nossa região esse problema não é tão grave, mas em alguns casos isolados, existem alguns insetos que podem gerar inconvenientes, pois há muito desfolhadores que se alimentam de pimenta. “Na minha opinião, um dos piores são sugadores como pulgões e cochonilhas, que possuem um controle um pouco mais dificultado, já que ficam na parte interna da copa, nas folhas, onde é mais difícil atingir o alvo e fazer o controle. Esses sugadores podem deixar a planta debilitada, causar até a morte. Mas ao mesmo tempo eles são importantes, pois são vetores de doenças virais”, afirma.

 

Redação Campo Vivo

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