ESPECIAL PIMENTA-DO-REINO: Fitossanidade

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Matéria publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL PIMENTA-DO-REINO (Edição 49 – Dez/22 Jan/23)


Cultivo da pimenta-do-reino deve ter atenção com pragas e doenças

As doenças da cultura da pimenta-do-reino costumam ser anormalidades provocadas geralmente por microrganismos como bactérias, fungos, nematóides e vírus, mas também podem ser causadas por excesso ou até mesmo a falta de fatores essenciais para o crescimento das plantas como nutrientes, água e luz, que nestes casos são chamados distúrbios fisiológicos.

Para que o produtor não amargue prejuízos na lavoura por conta dessas pragas e doenças, várias medidas podem ser adotadas: a cultura ser bem conduzida, a planta não estar sujeita a estresses provocados por diversos fatores como adubação desbalanceada, época de plantio desfavorável, competição com plantas daninhas e o uso de cultivares não adaptadas ao clima e ferimentos nas plantas. Vale ainda o produtor olhar com atenção o tipo de solo e o modo de irrigação conduzido na plantação. Solo de pimenta tende a ser mais sensível a terras encharcadas e morrem prematuramente por conta disso.

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Michel Miranda de Carvalho

De acordo com o mestre em ciências do solo, engenheiro agrônomo e consultor, Michel Miranda de Carvalho, a cultura da pimenta-do-reino apresenta poucas pragas e doenças, porém as doenças tendem a ser severas em alguns casos ao ponto de causar a morte da planta. “É o caso da doença fúngica Fusarium Solani (podridão de raiz), um fungo de solo que entra no sistema vascular da planta através de ferimentos na raiz e que passa a se multiplicar dentro do vaso (xilema), causa uma obstrução vascular impedindo que a parte aérea da planta receba água, causando assim a morte dessa planta”, ressaltou.

Como pesquisador, Michel orienta que os produtores dessa cultura comecem a boa prática na hora de comprar as mudas, já que grande parte da contaminação ocorre ainda no viveiro, segundo ele. “Por ser um material propagado por estacas proveniente de outra planta matriz, no momento da coleta das estacas pode acontecer de a planta coletada estar assintomática e a doença ser levada para o viveiro, e assim ser propagada entre as mudas clonadas. O pulgão é o principal disseminador da virose. Então a fusariose pode ser levada ao viveiro através do substrato que enche a sacolinha ou o tubete. E por ser um fungo, ele se dissemina muito facilmente, então as condições do viveiro favorecem muito nessa proliferação”, pontuou.

Ainda segundo Michel, no campo também são necessários alguns cuidados no manejo. “Na poda é preciso realizar a higienização do instrumento na mudança do trabalho de uma planta para outra. Já no solo, convém manter a microbiota benéfica sempre ativa. Isso contribui para uma menor infestação radicular após o plantio”, explica o mestre.

Quando comparada a cultura da pimenta-do-reino com o café, segundo Michel, o café hoje tem o maior número de doenças e pragas registradas em relação a pimenta. Mas ainda assim, o fato de a cultura do café ser amplamente estudada, acaba existindo mais fórmulas químicas registradas para o controle dessas pragas e doenças. “A pimenta-do-reino mesmo possuindo poucas pragas e doenças, não possui muitos produtos registrados para a cultura especificamente, fazendo com que os produtores adotem o uso de produtos biológicos, pois esses não apresentam restrições para uso”, finalizou o engenheiro agrônomo.

A pimenta-do-reino, mesmo possuindo poucas pragas e doenças, não possui muitos produtos registrados para a cultura especificamente
– Michel Miranda de Carvalho

 

Inorbert Melo

O pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Inorbert Melo, também pontuou que o principal desafio fitossanitário da pimenteira-do-reino no Espírito Santo, continua sendo a fusariose causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. piperis. “Esse fungo é muito agressivo às variedades plantadas no estado. As viroses vêm se destacando em alguns municípios, causando, em algumas situações, danos maiores que a fusariose. Esses danos são observados com maior incidência na cultivar Kottanadan. De forma oculta, porém muito severa, os fitonematoides, principalmente do gênero Meloidogyne, diminuem significativamente a vida útil da pimenteira-do-reino”. Ainda de acordo com Inorbert, é possível observar em diversas propriedades manchas foliares que ocasionam a queda prematura das folhas. “Essas manchas são atribuídas ao fungo Colletotrichum e está em estudo avançado numa parceria entre o Incaper e a Universidade Federal de Viçosa- MG. Mas de maneira geral, prejuízos econômicos oriundos da interação com insetos são menos perceptivos, mas ainda poderia destacar aqui sobre as cochonilhas”, diz o pesquisador do Incaper.

Para Melo, uma orientação para os produtores seguirem o controle e orientação como forma de prevenção contra as pragas, se tratando da pipericultura capixaba, é o uso de bioinsumos no controle de doenças, que apresenta há anos um crescimento contínuo. “O uso de fungos, como Trichoderma sp., tem apresentado bons resultados para manejo sustentável da fusariose. Além do fungo, bactérias do gênero Bacillus apresentam excelentes resultados no controle e manejo de nematoides. Esses bioinsumos devem ser usados de maneira preventivas, garantido a biodiversidade do solo. Essas ferramentas são empregadas de maneira complementar a outras práticas sustentável para o manejo de doenças e pragas”, orientou.

Agora comparando a cultura da pimenta-do-reino com a do café, o pesquisador ressaltou que falar de contaminação é algo particular de cada cultura, já que alguns patógenos são muito peculiares em cada uma delas. “A interação com patógenos causadores da fusariose, antracnose e viroses são exclusivas da pimenteira-do-reino. Dentre as três espécies de nematoides das galhas que parasitam as raízes da pimenteira-do-reino, apenas Meloidogyne incognita é capaz de parasitar as raízes do cafeeiro conilon”, pontuou.

As viroses vêm se destacando em alguns municípios, causando, em algumas situações, danos maiores que a fusariose
– Inorbert Melo

Inobert ainda enfatizou que vale alertar sobre uma contaminação específica dos últimos anos que tem tirado o sono do pipericultor e requer cuidados especiais mais técnicos, trata-se da contaminação com Salmonella. “Diferente do grão de café, que antes de ser consumido passa por processos de torra, moagem e o pó é escaldado com água fervente para extração dos aromas e sabores, por sua vez o grão da pimenta-do-reino é seco, armazenado e consumido in natura nos diferentes pratos da culinária ou em embutidos, aumentado um possível risco de contaminação humana com Salmonella sp. Mas o Incaper já está em andamento com um projeto inédito coordenado pela extensionista e Engenheira de Alimentos Mariana Vinha, que visa identificar esses contaminantes de pós colheita e mitigar os riscos a saúde das pessoas”, afirma.

 

Redação Campo Vivo

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