ESPECIAL CONILON: Conflito Leste Europeu

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Matéria publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL CONILON 2022 (Edição 48 – Julho 2022)


Guerra entre Rússia e Ucrânia causa impacto no fornecimento de insumos para o agro brasileiro

Imagem: Tom Fisk | Pexels

Um susto no mundo. Foi assim o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, anunciada no dia 24 de fevereiro de 2022. E para o agronegócio brasileiro, os impactos vieram e muitos seguem até hoje. Isso porque o Brasil depende de fertilizantes importados e nesse ponto, a Rússia é a maior fornecedora do insumo para o nosso país, ficando na 22ª posição dentre os maiores importadores de produtos agropecuários, segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. A Ucrânia por sua vez, é líder na produção de milho. Então uma possível retirada do país do mercado internacional, pode diminuir a oferta do cultivo, provocando a alta no preço do grão, muito utilizado hoje como ração, e isso consequentemente aumentaria os custos de produção na pecuária e das carnes nas prateleiras. E para piorar ainda mais esse cenário, a Rússia é uma importante compradora de carne brasileira, importando mais de US$ 167 milhões em 2021, ocupando o 12º lugar no ranking, segundo o sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro, Comex Stat.

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcos Montes, em entrevista logo que assumiu o cargo, em abril, disse que a guerra entre Ucrânia e Rússia não prejudica só o agro brasileiro, mas sim o mundo todo. “É uma preocupação enorme para gente poder ter, sem dúvida alguma, a questão da alimentação mundial.

Claro todos nós do Brasil estão sofrendo, mas quem mais está sofrendo com esse conflito são os países subdesenvolvidos. Nós precisamos dar a eles os alimentos que eles merecem. Essa segurança alimentar que nós temos que buscar passa por alguma situação que esse conflito gera”, ressaltou o ministro.

Ele apontou ainda que, se essa guerra persistir, é preciso se preocupar com as nações em desenvolvimento em relação à segurança alimentar. “O Brasil mais uma vez será parte importante dessa definição. Há um projeto, uma ideia que está sendo construída e foi construída pela ex-ministra Tereza Cristina numa com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e com todos os ministros do Cone Sul sobre a questão de tirar o fertilizante dos produtos que são embargados. Então, esse é um trabalho que está sendo feito”, destacou.

Então mesmo que o Brasil esteja geograficamente longe dos embates, acaba sofrendo as consequências da guerra. E a maior preocupação sobre isso, se refere aos insumos agrícolas. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos, em 2021 mais de 40 milhões de toneladas de fertilizantes foram consumidos no país. Desse total, 85% foram importados. Em 2017 esse número representava 76% do total e de lá pra cá, esse número só cresce. Hoje cerca de 70% do insumo usado na agricultura vem do exterior e a Rússia é a principal fornecedora.

O consultor Fernando Henrique Marini, que lida direto com produtores rurais, diz que desde o início da guerra, a Rússia, que é uma das grandes fornecedoras mundiais de fertilizantes, passou a sofrer sanções econômicas impostas por vários países, para forçar a suspensão dos ataques na Ucrânia, e o Brasil, que depende de importações desses insumos viu de imediato uma alta nos preços, impactando no custo de produção das lavouras. “Além dessas sanções, os portos para escoamento dos fertilizantes russos também foram bloqueados, dificultando a logística, que já enfrentava outra crise causada pelos congestionamentos a espera de carga e descarga em postos chaves para o transporte marítimo. Apesar dos esforços diplomáticos brasileiros, a situação ainda esta indefinida, remessas da Rússia dos fertilizantes conseguiram chegar ao Brasil, mas em alguns adubos poderá ocorrer dificuldade de fornecimento. Os empreendedores agrícolas devem procurar seus técnicos para estudarem a melhor maneira de resolver a falta dos fertilizantes, com as alternativas para substituí-los”, ressaltou.

Fernando pontuou ainda que hoje os produtores estão buscando outras alternativas como o uso dos biofertilizantes, e verificando quais áreas são necessárias realmente utilizar esses fertilizantes fazendo, com isso, que a aplicação diminua. Mas o consultor destaca que é necessário saber o que se utiliza em cada situação específica. “Diversas entidades de pesquisa vêm orientando os produtores sobre como escolher os substitutos em cada caso, então não há uma ”receita pronta” para todas as lavouras brasileiras”, alertou.
Sobre as ações que vem sendo tomadas para beneficiar o produtor, Marini disse que o Ministério da Agricultura iniciou com um plano para produção de fertilizantes no país, para diminuir a dependência das importações, enviou missões diplomáticas/comerciais para países produtores de fertilizantes, para minimizar a crise de fornecimento, ampliando o número de países produtores que possam atender a demanda brasileira de fertilizantes. “Como a crise afeta todos os grandes produtores de alimentos, não há uma solução a vista no curto prazo”, finalizou.

Antes mesmo de o início da guerra, os produtores rurais já sentiam os impactos dos preços e a escassez no mercado. E isso acontecia especialmente pelos problemas em países fornecedores da matéria-prima para produzir esses produtos, como a China e Índia, e por problemas logísticos devido à falta de contêineres e navios. Com a guerra entre Ucrânia e Rússia, isso pode se estender ou ainda piorar, já que no mercado mundial a Rússia mantém 10% dos nitrogenados, 7% dos fosfatados e 20% dos potássicos, segundo Fábio Mizumoto, coordenador do MBA de agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Especialistas acreditam que o preço dessa conta deva chegar ao bolso dos consumidores, que sentirão mais ainda a alta dos preços dos produtos nas gôndolas dos supermercados. “O custo de produção ficaria maior na safra de verão 22/23, e isso seria repassado ao consumidor final”, alertou Mizumoto.

Redação Campo Vivo

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