Os produtos florestais, como papel, painéis de madeira e celulose, ganharam espaço na pauta de exportações do agronegócio do Brasil no primeiro semestre de 2018, superando setores como o de carnes. É o que mostram as estatísticas do Ministério da Agricultura (Mapa) referentes ao período, com base nos registros oficiais de comércio cxterior.
De janeiro a junho deste ano, o segmento representou 14,3% do valor das exportações da agropecuária brasileira, ficando em segundo lugar no ranking. Foi superado apenas pela soja, com ampla margem, representando 45,1% das vendas de produtos do campo para o mercado externo. O complexo carnes representou 12,9% do total.
“Desde 2007, o setor de carnes se mantinha à frente dos produtos florestais na pauta exportadora, comparando intervalos de janeiro-junho. No entanto, a ascensão da celulose promoveu a troca de posições entre esses setores, a qual foi efetivada no primeiro semestre de 2018”, diz o relatório do Ministério da Agricultura.
As exportações de celulose somaram 7,96 milhões de toneladas nos primeiros seis meses deste ano, aumento de 12,1% em relação ao mesmo período em 2017, quando o volume foi de 7,1 milhões. Ajudada também por uma alta nos preços médios, a receita foi 44% maior, passando de US$ 3,01 bilhões para US$ 4,433 bilhões no período.
A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), entidade que representa a cadeia produtiva baseada nas florestas plantadas, avalia que a maior demanda, especialmente da China, foi determinante para o resultado, ajudado também pela melhora nos preços internacionais e a valorização do dólar em relação ao real, que favorece o exportador.
“Crescemos em todos os continentes, mas a demanda chinesa foi determinante”, ressalta a presidente da Ibá, Elisabeth de Carvalhaes, lembrando que os chineses são os maiores produtores mundiais de papel e vêm aumentando a procura pela celulose brasileira nos últimos anos.
Ao todo, o segmento de produtos florestais, que inclui também painéis de madeira e papel, embarcou 11,3% a mais em volume, passando de 11,15 milhões para 12,41 milhões de toneladas. Os exportadores faturaram 30,1% a mais. A receita passou de US$ 5,43 bilhões para US$ 7,07 bilhões comparando o primeiro semestre de 2018 e de 2017.
Elisabeth de Carvalhaes pondera que a indústria de celulose, madeira e papel sentiu os efeitos da greve dos caminhoneiros. Mas não tanto quanto outros segmentos do agronegócio. Segundo a presidente da Ibá, a cadeia produtiva tem boa parte de sua logística atendida pelas ferrovias, especialmente as companhias líderes do setor.
A executiva acrescenta que a indústria trabalha normalmente com estoques para um período de 32 a 35 dias, minimizando dificuldades no cumprimento de contratos. “Algumas empresas não puderam movimentar carga. Não ficamos alheios ao problema, mas nosso setor dispõe de transporte ferroviário e não chegamos ficar inadimplentes na entrega”, garante.
Mais dependente das rodovias, o complexo carnes sofreu maior efeito da greve dos caminhoneiros, que afetou o fluxo de matérias-primas e produtos. “Junho acabou trazendo dados distorcidos para o setor porque o impacto da logística foi muito forte. Se as exportações tivessem mantido os mesmos patamares de maio, o resultado seria bem diferente”, diz o analista da consultoria INTL FCStone, Caio Toledo.
Foi uma dificuldade a mais para o setor, que enfrenta restrições ao produto brasileiro em mercados considerados importantes. “Embargos impostos à carne brasileira têm prejudicado o desempenho das exportações, como exemplos da União Europeia, da Rússia e da Arábia Saudita, cujos mercados significaram uma redução de US$ 1,02 bilhão no primeiro semestre de 2018 ante idêntico intervalo em 2017”, diz o relatório do Ministério da Agricultura.
No resultado geral, as vendas externas do complexo carnes entre janeiro e junho de 2018 caíram 10,8% em volume, na comparação com o primeiro semestre de 2017. De um ano para outro, o volume passou de 3,23 milhões para 2,88 milhões de toneladas. O faturamento foi 12,7% inferior. Passou de US$ 7,30 bilhões para US$ 6,37 bilhões.
Os embarques de carne de frango caíram 13,2% em volume no primeiro semestre deste ano, somando 1,8 milhão de toneladas entre produto in natura e industrializado. Em meio à queda nos preços internacionais, o faturamento dos exportadores caiu 19,1%, para US$ 2,85 bilhões, conforme os dados do Mapa.
Situação semelhante foi a da carne suína. O Brasil embarcou 18,1% menos no intervalo entre janeiro e junho de 2018: 276 mil toneladas, conforme o levantamento do Ministério da Agricultura. Com preços médios 16% menores no período, a receita caiu 31,3% em comparação com a do primeiro semestre de 2017, para US$ 555 milhões.
“Na carne de frango, houve um efeito também do embargo da União Europeia, embora não tenha sido tão grande quanto se tivesse ocorrido na Ásia ou no Oriente Médio. A carne suína tem a Rússia como um grande comprador e a restrição do país acabou afetando”, resume Toledo.
A carne bovina foi exceção, segundo o Mapa. De janeiro a junho, o volume aumentou 5,2% em relação ao mesmo período em 2017, totalizando 685 mil toneladas. E, mesmo com preço médio internacional menor, a receita dos exportadores subiu 3,6%, chegando a US$ 2,72 bilhões.
“Mercados como o chinês têm comprado uma carne de qualidade a um preço relativamente baixo, internacionalmente. No fim das contas, isso estimulou a saída de volumes no primeiro semestre, ajudando a reduzir os efeitos do embargo da Rússia”, analisa Toledo, ressaltando também a valorização cambial como fator que ajudou nos resultados do segmento.
Mercado positivo
Por conta dos problemas de logística ocorridos entre maio e junho, Caio Toledo acredita que volumes de carnes que não foram exportados no mês passado serão embarcados a partir deste mês. A projeção dele só para as vendas externas de carne bovina em julho superam as 100 mil toneladas.
De modo geral, ele espera uma normalização do mercado nos próximos meses. “Julho pode ter máximas históricas. Mas o segundo semestre é de retomada das exportações e, sazonalmente, o segundo semestre costuma ser melhor que o primeiro”, avalia o consultor da INTL FCStone.
Representantes da indústria de carnes têm afirmado que esperam a reversão das restrições à carne brasileira no mercado externo o quanto antes. Além de apostar na abertura de novos mercados para diversificar ainda mais a pauta de exportações do complexo.
“Sofremos com a Operação Carne Fraca. O mercado reconhece a qualidade da carne brasileira, mas, com a Operação Carne Fraca, essa imagem caiu. Aos poucos, a visão externa tem voltado a melhorar”, comenta Toledo.
Na indústria de florestas plantadas, Elisabeth de Carvalhaes pontua que a entrada de novos players no mercado de celulose interfere na precificação. De acordo com a Ibá, só nos primeiros três meses de 2018, as cotações médias estavam em US$ 1.200 por tonelada nos Estados Unidos, US$ 1000 na Europa e entre US$ 800 e US$ 850 na China.
Mas a executiva também tem uma expectativa positiva para a exportações do produto nos próximos meses, embora veja incertezas vindas da política brasileira de comércio exterior, como mudanças no regime tributário.
“O ano vai terminar com crescimento e assim também será 2019. A demanda está aquecida. Há novos players entrando, mas o cenário é positivo”, diz ela.
Globo Rural