A silvicultura nacional tem apresentado um cenário econômico desfavorável aos produtores rurais. Os preços baixos praticados no mercado comprometem a receita bruta do produtor, tanto da borracha natural, quanto da madeira para energia e tornam a atividade não atrativa economicamente. Mesmo com esse cenário, o setor tem potencial de crescimento e competitividade, já que o país possui boas condições de clima e solo e extensão de terras com aptidão florestal.
As informações foram apresentadas no 2º Seminário Nacional do Projeto Campo Futuro, nesta quarta-feira (26/10), na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília. Segundo dados coletados pelos painéis do Projeto Campo Futuro nos estados de Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Goiás, em 2016, o preço médio de venda do quilo do coágulo e da lenha é o principal gargalo da atividade. Em algumas florestas estabilizadas, a receita bruta gerada pelos produtores atualmente, por quilo de coágulo produzido, não cobre o Custo Total (CT) da produção.
Em Gaúcha do Norte (Mato Grosso), por exemplo, a receita bruta está em R$ 2,25 por quilograma (kg) produzido, mas o Custo Total está em R$ 3,62. “Nós observamos que os produtores pagam o Custo Operacional Efetivo (COE) e Custo Operacional Total (COT), mas não conseguem pagar todo o Custo Total (CT). Dessa forma, a atividade é economicamente viável, mas não é atrativa, como representado pelas taxas de remuneração do capital, que foram de 3,54% para os produtores dessa região”, disse o consultor da Labor Rural e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Walter Rocha.
De acordo com o palestrante, mesmo com os preços baixos, foram identificados pontos de melhoria nas regiões pesquisadas para tornar as atividades de heveicultura (cultivo de seringueira) e eucaliptocultura (cultivo de eucalipto) mais atraentes. “Os produtores de borracha natural de Gaúcha do Norte (MT) precisam de mais treinamento dos sangradores para que as florestas sejam mais longevas. Já os da região paulista de Parapuã devem ter como meta maiores produtividades e passar a formar os novos módulos de produção com clones mais produtivos e com maior população de plantas por hectare”, explicou Walter.
Café – O panorama geral da produção da cafeicultura na safra 2015/2016 foi apresentado pelo pesquisador do Centro de Inteligencia em Mercados (CIM) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Fabrício Andrade. O levantamento dos custos de produção foi realizado nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Paraná. Conforme o diagnóstico, os principais itens que integraram o COE foram gastos com pessoas (condução da lavoura), mecanização, corretivos, fertilizantes, produtos fitossanitários, colheita e pós-colheita e juros de custeio.
Na cafeicultura de Coffea arabica, o Custo Operacional Efetivo (COE) na safra 2015/2016 ficou em média em R$ 325,22 a saca de 60 kg. Já o Custo Operacional Total (COT), soma do COE mais depreciações e pró-labore, foi de R$ 389,70 a saca e o Custo Total (CT), soma do COT e custo de oportunidade, R$ 480,74/saca. “O Projeto constatou que o maior gasto no Custo Operacional Efetivo (COE), das propriedades com tipo de produção manual, foi com colheita e pós-colheita (em média 41%), uma vez que há a necessidade de contratação de pessoas para realizarem a derriça dos cafeeiros. Já nas propriedades com tipo de produção mecanizada, o principal gasto foi com fertilizantes (em média 28%)”, explicou o pesquisador.
Os resultados da cafeicultura revelam que os custos de produção mostram realidades distintas entre as principais regiões produtoras do Brasil. Os municípios com tipo de produção semimecanizado não estão em situação melhor que alguns com produção manual, o que merece atenção no processo de tomada de decisões. “Nós concluímos que a adoção da colheita mecanizada é uma alternativa para viabilizar o trabalho diante dos custos elevados e escassez de mão de obra”, concluiu Fabrício.
CNA