A turbulência internacional, provocada pela crise imobiliária nos Estados Unidos, trouxe reflexos negativos também para as commodities agrícolas, nas bolsas de Nova York e Chicago. Em agosto, algumas commodities sentiram mais o efeito negativo do que outras, sobretudo as negociadas em Nova York, que tinham uma exposição maior de fundos e especuladores. O impacto sobre os grãos, transacionados em Chicago, foi menor, uma vez que estavam mais influenciados pelos fundamentos.
“A turbulência atingiu sobretudo as commodities de metais e energia, que estão ligadas ao crescimento econômico e industrial”, disse Michael McDougall, diretor da Fimat Futures, corretora de commodities sediada em Nova York. Nesse cenário, produtos como açúcar, cacau e algodão foram os mais atingidos. O açúcar, por estar relacionado à energia, por conta do álcool, e o cacau por ter uma maior exposição dos fundos. Já o algodão recuou pelo temor de que a turbulência afetasse o mercado chinês, desaquecendo a economia global.
Os grãos – soja, milho e trigo – foram influenciados mais pelo fator clima e oferta e demanda nos EUA e mercado internacional.
“As commodities em geral foram atingidas em um primeiro momento. Passado o período de maior turbulência, os preços foram se acomodando aos fundamentos de cada produto”, afirma José Carlos Hausknesht, analista de commodities da divisão de agronegócios da consultoria paulista MB Associados.
O trigo foi a commodity mais alheia à crise internacional. No mês de agosto, a cotação do cereal bateu recorde, atingindo a maior alta dos últimos 11 anos. Os fatores que contribuíram para essa forte valorização estão ligados à escassez do produto no mercado. “Há problemas climáticos na Europa e também na Austrália”, afirmou Flávia Moura, da Fimat. Os contratos de segunda posição acumularam alta de 12,93% em agosto, com cotações médias a US$ 7,0904 o bushel. Em 12 meses, a alta é de 76,5%. A entressafra na Argentina e problemas climáticos naquele país também ajudam a sustentar as cotações, segundo Élcio Bento, especialista em trigo da Safras&Mercado. Segundo ele, a grande demanda pelo trigo americano também ajudam a dar suporte às cotações.
Os preços médios do milho encerraram o mês com alta de 2,8%, com os contratos de segunda posição a US$ 3,4796 por bushel. Segundo Flávia Moura, a alta da trigo puxou os preços dos grãos em geral. No caso do milho ainda há a influência da boa demanda pelo etanol no mercado americano. A soja encerrou o mês com ligeiro recuo de 0,94%, com os contratos de segunda posição a US$ 8,5242 o bushel. Com a turbulência dos mercados, muitos fundos que estavam comprados em soja saíram.
O mercado de açúcar, já pressionado pela expectativa de superávit mundial, com as safras do Brasil e da Índia, também foi afetado pela crise que respingou sobre as commodities de energia. Os contratos de segunda posição fecharam a 9,86 centavos de dólar por libra-peso, recuo de 4,1% em agosto.
O algodão, que está sustentado pela menor área plantada nos EUA, não passou imune pela crise. Os contratos de segunda posição encerraram com queda de 6,47%, negociados a 60,38 centavos de dólar por libra-peso. Assim como o cacau, que registrou fuga maciça de fundos, afirmou Thomas Hartmann, da TH Consultoria. Os contratos de segunda posição fecharam a US$ 1.837,13 a tonelada, queda de 11,37%.
Fatores climáticos e maior previsão de safra pontuaram a atuação do suco de laranja na bolsa de Nova York, afirmou McDougall. Os contratos de segunda posição encerraram em média a US$ 1,2813 a libra-peso, com recuo de 4,02%. Já o café não se deixou afetar pela crise, uma vez que o mercado está atento à menor produção brasileira, segundo Sérgio Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP). Os contratos de segunda posição fecharam a US$ 1,1986 a libra-peso, alta de 5,37%.
Valor Econômico