Temperatura alta reduzirá área agrícola

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A elevação da temperatura no Brasil pode mudar a geografia da agricultura e transformar áreas recomendadas a determinado cultivo em áreas inaptas. Desde 1990, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com outras instituições, monitora as alterações climáticas e, com base nessas mudanças, traça cenários com alta, média e baixa probabilidade de se concretizarem. Entre os mais prováveis, está o aumento da temperatura em 1 grau Celsius até 2020 – de 1990 até agora, a elevação já atingiu 0,7 graus. Isso reduziria a área apta para soja em 8,8%, sobretudo no Rio Grande do Sul, Goiás e Sul de Mato Grosso. Para o café, o recuo seria mais drástico, de cerca de 22%.


 


Giampaolo Queiroz Pellegrino, pesquisador da área de Mudanças Climáticas Globais da Embrapa, pondera que todos os cenários desconsideram qualquer avanço tecnológico e genético nas culturas. Mas, coincidência ou não, migrações de cultivo já estão ocorrendo, por exemplo, na cultura do café em Minas Gerais, São Paulo e Paraná. “Das regiões mais quentes para as de altitude mais elevada”, resume Pellegrino, lembrando da forte possibilidade de migração por concorrência com outras culturas.


Entre 1990 e 2005 houve redução de 17% nos cafezais no Vale do Mucuri (MG), de 6% no Triângulo Mineiro e de 42% na região metropolitana. Por outro lado, as regiões mais ao Noroeste e ao Norte elevaram seus cafezais em 60% e 84% respectivamente no mesmo período, de acordo com a Embrapa.


Enquanto isso, algumas regiões, antes inaptas, podem se tornar recomendadas ao cultivo de café com a elevação da temperatura, conforme explica o pesquisador. Entre elas, está a região Sul do Paraná, onde o clima mais quente pode reduzir geadas, que hoje inviabilizam cafezais.


No final das contas, o saldo é de redução de área recomendada. Em cenário de elevação de um grau, a área apta para plantio de café arábica, por exemplo, recuaria de 904 mil km2 para 699 mil km2.


A Fundação Procafé, com sede em Varginha (MG) e ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) desde 1974 acompanha as mudanças climáticas em cafezais mineiros. O pesquisador da entidade, Antônio Wander Garcia, explica que desde 1998 os cafezais do sul de Minas, a mais tradicional do País, está em ciclo de má distribuição de chuvas e já acumula cinco anos de perdas de produtividade. Nesta safra, segundo Garcia, o prejuízo será o maior da série, entre 30% e 40%. “A planta tolera um déficit hídrico de até 150 milímetros (mm). Mas, o veranico que atingiu a cultura entre março e outubro, acumulou déficit na planta de 300 mm”, compara.


Ele acrescenta ainda que nos outros anos de má distribuição pluviométrica, as perdas também foram elevadas, ficando entre 10% e 20%. “Com produção por hectare menor, o cafeicultor do sul mineiro vem obtendo rentabilidade baixa ou prejuízo o que aumenta a tendência de migração”, avalia o pesquisador.


 


Gazeta Mercantil 

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