A expectativa da uma supersafra de café no Brasil no ciclo 2008/09, que começa a ser colhido a partir de março do ano que vem, dá os primeiros sinais de arrefecimento. No mercado, as projeções indicavam que a produção poderia superar a marca de 48,5 milhões de sacas de 60 quilos, volume recorde alcançado em 2002/03. Mas o longo período de estiagem que atinge as principais regiões produtoras de grãos do país, como o sul de Minas e a Mogiana Paulista, está afetando o desenvolvimento dos cafezais, que estão em fase de floração.
A floração do café vai de setembro até novembro e é essencial para o desenvolvimento dos grãos. Com a seca, as flores das árvores abrem, mas os frutos não vingam. Mesmo com a previsão de chuvas a partir deste mês, as perdas anteriores são consideradas irreversíveis.
Analistas de mercado trabalhavam com projeções otimistas, indicando colheita superior a 48,5 milhões de sacas, podendo ultrapassar os 50 milhões de sacas. Além do período de bianualidade da cultura – a safra 2008/09 será mais produtiva que a atual, de 32,6 milhões de sacas, segundo a Conab -, os melhores tratos culturais nas lavouras também induzem a uma maior produção. Mas, por conta da seca, parte dos analistas, sobretudo os mais conservadores, passou a estimar produção da ordem de 40 milhões de sacas, com quebra de 20% a 30% provocada pela seca.
Os dados oficiais do governo e do setor só serão divulgados no fim do ano, após um balanço feito após o período das floradas, afirma Gilson Ximenes, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC).
“As chuvas que deverão ocorrer devem estancar a quebra, mas não reverter o que já se estragou”, observa Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP).
Mas, apesar da quebra da safra, os ganhos da cadeia produtiva de café continuarão firmes. Dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) indicam que o faturamento da cadeia (produtores, exportadores e indústrias) deverá atingir US$ 11 bilhões nesta safra 2007/08, 13,4% maior que o ciclo anterior (de US$ 9,7 bilhões). Para 2008/09, a expectativa é de que a receita atinja US$ 12 bilhões, alta de 9%, afirma Nathan Herszkowicz, diretor da Abic. Se confirmadas as estimativas, o faturamento terá novo recorde.
Conforme Ximenes, a desvalorização do dólar em relação ao real está comprometendo a rentabilidade dos produtores brasileiros.
Em Nova York, os preços do café registram as maiores cotações desde 1999. Nos últimos 12 meses, as cotações do arábica acumulam alta de 24%. Em Londres, o café robusta subiu 21,14% no mesmo período e apresenta as maiores cotações desde 1998, diz Rodrigo Costa, da Fimat Futures. Ontem, os contratos de março em Nova York despencaram 995 pontos, para US$ 1,3395 a libra-peso. “Se chover, os preços devem cair. Mas as cotações devem oscilar entre US$ 1,20 a US$ 1,25 no médio prazo”.
A alta dos preços já levou algumas empresas, como a Nestlé, a reajustar o produto. No Brasil, as torrefadoras ainda não têm previsão de reajuste, diz Herszkowicz.
No mercado global, a produção está estimada em 114 milhões de sacas em 2007/08, queda de 6% sobre o ciclo anterior, segundo a Organização Internacional do Café (OIC). “O país deverá exportar 28 milhões de sacas e consumir no mercado interno cerca de 45 milhões de sacas. A produção tem de ser, no mínimo, de 45 milhões de sacas”, acredita Herszkowicz.
Valor Econômico