Os resultados preliminares do Censo Agropecuário 2006, divulgados no fim de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o rebanho brasileiro de bovinos é menor do que estimativas feitas pelo próprio instituto.
Até agora, o IBGE contou um rebanho bovino de 169 milhões de cabeças. Ainda falta contabilizar parte das propriedades, mas, conforme o gerente do Censo, Antônio Carlos Florido, esse número não deve ultrapassar 185 milhões. Mesmo assim, são 20 milhões de cabeças a menos do que a estimativa do IBGE de 2006, de 205,8 milhões de bovinos. O relatório final deve ser divulgado até o fim do semestre.
DÚVIDA
A disparidade dos números pode pôr em dúvida as estimativas anuais feitas pelo instituto, segundo analistas. “É muita diferença. Vinte milhões de cabeças é quase o rebanho de todo o Estado de Mato Grosso do Sul”, diz o analista Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. “Não é possível reduzir essa quantidade de animais em um ano, mesmo com abate de matrizes. Um dos dois números está errado”, questiona.
O gerente do Censo Agropecuário explica que as metodologias usadas nas estimativas e no censo são diferentes. “As estimativas anuais são feitas de forma subjetiva, com base em informações como vacinação contra aftosa. Às vezes, essas informações não têm qualidade”, diz. “Já o censo é feito de forma objetiva; é um alicerce.”
Segundo Florido, há uma proposta para a substituição de pesquisas feitas com métodos subjetivos por pesquisas objetivas, como as feitas por amostragem, que é o caso da pesquisa do Censo. Outro problema, diz o gerente, é o intervalo entre os dois censos. “O ideal era que o censo fosse realizado a cada cinco anos.”
FRONTEIRAS AGRÍCOLAS
O resultado preliminar do censo mostra também que a área de lavouras aumentou 83,5% no País, em comparação com o censo de 1995, enquanto a área de pastagem caiu cerca de 3%. Segundo relatório do IBGE, os números confirmam um modelo de desenvolvimento do setor com expansão de fronteiras agrícolas. O censo aponta, ainda, substituição das áreas de pastagem por lavouras entre 1996-2006, “em razão da progressiva inserção do País no mercado mundial de produção de grãos (especialmente a soja) e da intensificação da pecuária”.
Para o analista Tito Rosa, a redução da área de pastagem já era esperada. “A pecuária perdeu área para a agricultura nos últimos anos, principalmente no Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Por outro lado, houve intensificação das criações”, diz. “O pecuarista capitalizou-se. Alguns intensificaram a área de pecuária e investiram na integração lavoura-pecuária. Aqueles que preferiram ficar só com a pecuária, migraram para as regiões de fronteiras, no Norte do País.”
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Mário Candia, confirma a tendência da integração. Segundo ele, que também é pecuarista, a terra vem sendo extremamente utilizada. “Estamos fazendo três safras. Primeiro soja, depois a safrinha de milho e em seguida plantamos braquiária para a pastagem. Então o gado fica confinado no período de safra e no pasto na entressafra.”
O Estado de São Paulo