A maior produção de aves fez aumentar a procura por pintos e ovos férteis. O resultado é um déficit de 5% na necessidade de pintos, uma diminuição no ritmo de exportações de ovos férteis e o aumento nos preços dos dois produtos. A expectativa é que a demanda continue superior à oferta pelo menos até o início do próximo ano.
“O déficit é resultado da crise do ano passado”, diz José Carlos Godoy, secretário-executivo da Associação dos Produtores de Pinto de Corte (Apinco). Segundo ele, com os casos de gripe aviária e a queda nas exportações de frango em 2006, muitos projetos de expansão do setor foram “engavetados” e retomados neste ano. “O aumento na demanda nos pegou de surpresa”, afirma. Em sua avaliação faltam entre 20 a 30 milhões de pintos por mês.
“O que ocorre é que abate de frango está crescendo em um ritmo superior à produção de ovos e pintos”, diz José Flávio Neves Mohallem, presidente da Granja Planalto e da Apinco. Segundo ele, no ano passado muitas empresas abateram matrizes antes do tempo para diminuir a oferta, uma vez que houve excedente de produção em virtude da menor demanda ocasionada pela gripe aviária. Houve descarte de matrizes com até 50 semanas, quando normalmente a vida útil é de até 68 semanas. Agora, ocorre o inverso. Tem matriz produzindo até 80 semanas – menos que em menor volume. “Tivemos de alongar a idade das matrizes”, diz Roberto Kaefer, sócio da Globoaves. A empresa reduziu em agosto do ano passado a produção de ovos em 1 milhão por semana.
Para os empresários do setor, a menor oferta não tem prejudicado o abastecimento das empresas avícolas. “O que ocorre é que, se tivéssemos mais, venderíamos mais”, argumenta Kaefer. Na Granja Planalto, por exemplo, os pedidos têm sido cumpridos com atraso de até duas semanas. “Não temos conseguido atender também ao mercado externo”, acrescenta Mohallem. Segundo ele, as exportações do setor – da ordem de 10 a 12 milhões de ovos férteis por mês – poderiam ser de até 20 milhões de ovos. A Granja Planalto manteve o volume vendido no ano passado – 1 milhão de unidades por mês – quando deveria aumentar as vendas. Na Globoaves, alguns pedidos para a Europa, Oriente Médio e América do Sul tiveram de ser rejeitados.
Com a maior procura, no caso dos ovos – que geralmente têm reajustes anuais de preços da ordem de 5% – os valores pagos subiram, em média, 30%. Houve reajuste também nas cotações dos pintainhos. No início do ano, os animais custavam R$ 0,49 a unidade – e o quilo do frango vivo saia a R$ 1,15. Hoje, os pintainhos valem R$ 0,80 a unidade – reajuste superior a 60% – enquanto o frango vivo teve seu preço valorizado em cerca de 40% – R$ 1,60 o quilo. “O mercado está muito ajustado”, diz o pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP).
Gazeta Mercantil