Na contramão dos produtos agrícolas, que alcançaram um novo patamar de preços, o setor sucroalcooleiro se encontra em baixa – a superoferta de açúcar e álcool derrubou as cotações este ano. No caso da cana-de-açúcar, os produtores independentes vão receber, em média, cerca de 32% menos do que o verificado na safra anterior. Além disso, o valor pago está abaixo dos custos de produção, segundo o presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), Ismael Perina.
Na atual safra 2007/08, o preço pago pela cana ao produtor – de acordo com o Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana), órgão responsável pelo cálculo que define o valor da matéria-prima – foi em média de R$ 35 por tonelada. Na safra anterior, o preço pago atingiu os R$ 52 por tonelada.
De acordo com dados de mercado, é a menor remuneração da cana desde a safra 1998/99, época do fim do controle do governo sobre a produção e exportação dos derivados de cana, sendo a primeira safra desregulamentada.
Perina informou ainda que o custo de produção nesta safra está em torno de R$ 42 a tonelada nos canaviais paulistas. “O que está evitando uma forte crise no setor é que os ganhos da última safra estão compensando as atuais perdas”, afirma.
Para o executivo, o cultivo de cana no Brasil é um negócio para médio e grande produtor. “Para sobreviver no mercado, os pequenos produtores independentes precisam se unir ou formar cooperativas para reduzir os custos com insumos.”
Hoje, cerca de 28% da produção nacional, cerca de 475 milhões de toneladas de cana, está nas mãos dos canavieiros independentes – que não têm usinas, apenas terras -, mas, de acordo com o mercado, a tendência é de que haja uma maior concentração das áreas destinadas ao plantio de cana, ou seja, cada vez mais as usinas terão terras próprias. O presidente da Orplana afirmou que uma das alternativas encontradas pelos produtores é o arrendamento. “Independentemente do custo de produção, o produtor vai receber ao final da safra.”
A expectativa do mercado sucroalcooleiro é de que o quadro de preços baixos se repita ainda na próxima safra, quando a oferta e demanda dos derivados de cana ainda estarão desajustados. “A baixa rentabilidade acarretará a redução dos investimentos no setor e irá desacelerar o crescimento”, prevê Perina.
Diante disso, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Reinhold Stephanes, pede calma aos produtores. “Investir em cana é um bom negócio, mas é um investimento de médio prazo”, afirma Stephanes. Para o ministro, o setor será compensado assim que houver uma demanda mundial de etanol, com mais paises produzindo o biocombustível.
Hoje a produção mundial está concentrada no Brasil e nos Estados Unidos, sendo que somente a produção brasileira possui excedente para exportar. Nesta safra, o volume de álcool produzido será superior a 20 bilhões de litros, sendo 3,6 bilhões de litros foram destinados ao mercado externo.
Stephanes prevê que a produção brasileira vai dobrar até 2015 e que a área cultivada saltará dos atuais 6 milhões para 9 milhões de hectares. Na ocasião, o Brasil deve se consolidar como o maior exportador de açúcar e álcool, responsável por mais de 50% do mercado mundial.
De acordo com Stephanes, há uma política pública determinada no aumento das lavouras de cana sobre as áreas de pastagem degradadas que hoje chegam a 40 milhões de hectares. Além disso, o ministro acredita ser possível reduzir as áreas de pastagem em 25%, elevando a produção da pecuária para até 2 cabeças por hectare.
Atualmente os rebanhos brasileiros ocupam 0,9 cabeça por hectare. O ministro citou ainda o exemplo do Estado de São Paulo que diminuiu a área de pastagem e conseguiu aumentar a produção.
DCI