Nova legislação aprovada pela União Européia (UE) nesta semana restringe a importação de carne bovina brasileira para 27 países do bloco a partir de janeiro. Sem questionar a qualidade do produto, a decisão mostra preocupação com a origem dos bois do país, a chamada rastreabilidade. Pelas novas regras da Europa, será importada apenas carne brasileira produzida de gado vindo de um número limitado de fazendas, onde a origem dos animais seja comprovada desde o seu nascimento. De acordo com o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Pierre Vilela, as barreiras deverão ter impacto direto nos preços do produto, provocando quedas para o consumidor brasileiro.
Ele explica que, atualmente, a UE é o maior importador de carne in natura do Brasil e, com as restrições, uma parte do volume exportado acabará no mercado interno. “E não teremos condições de absorver essas sobras. Com a oferta maior, a tendência é que haja um novo equilíbrio de preços, em patamares mais baixos”, completa Vilela, ressaltando que isso só não vai acontecer caso o país consiga substituir os compradores. “O que não se faz com rapidez, porque é difícil conquistar outros mercados”, afirma. Mesmo ainda mantendo embargos à carne de regiões pecuárias importantes, o bloco europeu já comprou, em 2007, US$ 1,5 bilhão do Brasil em carne bovina.
A definição das novas restrições é resultado das inspeções feitas pelos europeus a fazendas brasileiras, que levaram à conclusão de que “as condições fitossanitárias não são apropriadas”.
Segundo o ex ministro da agricultura e atual presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec), Marcos Vinícius Pratini de Moraes, foram encontradas deficiências na rastreabilidade elaborada por muitas fazendas e mesmo inexistência de informações sobre a origem dos animais que estavam nos pastos. “Depois que a vaca louca praticamente dizimou a indústria de carne européia, os governantes passaram a dar muito valor ao rastreamento da origem dos animais, que garantam a segurança alimentar da população da Europa”, explica.
Na teoria, a falta dos registros de procedência não descarta a possibilidade de que alguns animais possam ter vindo de áreas brasileiras ainda não reconhecidas como livres de aftosa pela Organização Mundial de Saúde Animal, um órgão europeu. Desde 2005, a Europa não importa produtos de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo em função de um foco de aftosa. Outros países também suspenderam as importações de carne brasileira na época, mas, diante da determinação brasileira de erradicar a doença, muitos voltaram, inclusive a Rússia, que atualmente é o maior importador de carne brasileira do mundo.
O ministro da agricultura, Reinhold Stephanes, informou que o Ministério fará uma lista com as fazendas que têm condições de atender a todas as regras do sistema de rastreabilidade brasileiro, o Sisbov. Ele disse que há cerca de 10 mil fazendas inscritas. O governo fará auditorias nessas propriedades para escolher aquelas que serão habilitadas para vender para a UE até 31 de janeiro.
Fronteira agrícola se expande, e pastagens caem
RIO O primeiro Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em mais de dez anos mostrou um novo quadro no setor do país, com expansão de fronteiras agrícolas e redução de áreas de pastagem. Segundo o levantamento divulgado ontem, desde o Censo anterior, de 1996, a área de lavouras no Brasil aumentou 83,5%, enquanto a de pastagens reduziu se em aproximadamente 3%.
Foram investigados 5,2 milhões de estabelecimentos e os resultados são preliminares. Os dados definitivos serão apresentados em outubro de 2008. Para o gerente técnico do Censo, Antônio Carlos Florido, a substituição das áreas de pastagem por lavouras ocorreu por causa da progressiva inserção do país no mercado mundial de produção de grãos (especialmente a soja) e do ganho de eficiência da pecuária.
Segundo ele, o aumento da produtividade, em conseqüência do uso de tecnologia, foi o principal fator responsável pelas mudanças ocorridas no setor agrícola desde 1996. “Se a área de pastagem diminuiu e aumentou o número de bovinos, é porque aumentou a eficiência da pecuária”, disse. Apesar da redução na área de pastagens, o efetivo de bovinos no período de 1996 a 2006 cresceu de 153,06 milhões de cabeças para 169,9 milhões de cabeças no mesmo período.
O Censo mostrou também que a relação entre a população de bovinos e a população humana ficou em 0,92 em 2006 (0,92 cabeça de boi para cada pessoa), um pouco inferior a 1996, quando a relação era 0,97.
Hoje em Dia – MG