O etanol é um caminho sem volta, com perspectivas extremamente positivas não apenas para 2008 – ano em que o Brasil consolidará sua liderança na produção mundial – mas para um prazo bastante longo. O mercado interno continuará sendo o grande responsável pelo aumento da produção, afirmam especialistas do governo e do setor privado. Segundo estimativas da Datagro – uma das principais consultorias do setor sucroalcooleiro do país -, em 2007 a produção nacional fechará em 21,34 bilhões litros de álcool, passando pela primeira vez os EUA. Para 2008, está prevista uma expansão de 10%.
No campo a situação não é diferente. O crescimento da safra de cana-de-açúcar será de 11,1%. O desempenho se dará devido ao aumento da área plantada, de cerca de 12,53%, e da produtividade média, com uma alta de 2,6%, de acordo com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
No Brasil, o etanol já representa mais de 40% do consumo total de combustíveis, enquanto nos Estados Unidos o índice é de 4,8% da gasolina consumida e, no mundo, de 4,3%. Isso, destaca o presidente da Datagro, Plínio Nastari, mostra o grande potencial do álcool em termos de mercado.
Ele lembra que as montadoras estão difundindo a mistura de anidro à gasolina no planeta.
“As empresas afirmam que automóveis leves podem misturar, sem adaptações de motor, até 10% de anidro ao total de gasolina. Ao mesmo tempo, a cultura do flex já se consolidou no Brasil”, diz Nastari, acrescentando que o consumo de álcool para fins combustíveis no mundo deve chegar a 49,7 bilhões de litros no ano que vem, frente a 1,17 trilhão de litros de gasolina.
“O Brasil tem ainda como trunfo o fato de ter terras de sobra para plantar cana, sem ser acusado de encarecer o preço dos alimentos, casos dos Estados Unidos, com o milho, e da União Européia, com o trigo”, afirma o presidente da Datagro.
Adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel será obrigatória Um mercado tão promissor atrai grupos estrangeiros, que já representam 12% do total da cana-de-açúcar produzida. A maioria das empresas é francesa e americana. Entre as que já se instalaram no país ou mostraram interesse destacamse Agnenco (franco-brasileira), Marubeni (Japão), Sempra Energy (EUA), Aeni (Itália) e Clean Energy Brazil (Inglaterra). Figuras conhecidas do cenários nacional e internacional, como o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues; o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga; e o megainvestidor George Soros também decidiram investir nessa área.
“Cada litro de álcool representa dois quilos de CO2 que são retirados da atmosfera”, afirma Maurílio Biagi Filho, um dos maiores produtores de álcool do país.
Biagi lembra que a partir de janeiro de 2008 torna-se obrigatória a adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel. Isso, ressalta o empresário, torna o mercado de biocombustíveis ainda mais animador. O biodiesel usa ETANOL em seu processo de produção.
O diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, torce para que não haja atropelos ao longo do caminho, como alterações na política tributária, que aumentem a carga do setor sucroalcooleiro.
Ele lembra que a produção não é subsidiada e vem ganhando mercados por ser extremamente competitiva.
“Este ano tivemos uma SAFRA alcooleira no Centro-Sul de 3,7 bilhões de litros a mais. Estamos próximos dos 20 bilhões de litros. O Norte e o Nordeste devem produzir 1,7 bilhão de litros. Foi o ano do álcool, e não do açúcar”, diz Pádua, ressaltando que o Brasil saiu de 17,5 bilhões para 21,5 bilhões de litros este ano.
Entre os fatores que mais contribuíram para esse resultado, o diretor da Unica cita a frota de veículos bicombustíveis e a mistura de 25% de álcool anidro à gasolina, com a qual o setor trabalhou ao longo do ano. Com o preço do álcool hidratado abaixo do da gasolina, salienta Pádua, o consumo cresceu de forma progressiva.
“Em alguns estados, como São Paulo, o preço ficou 50% menor que o da gasolina”, afirma o diretor da Unica.
Oferta maior que demanda causa queda no preço da cana Para 2008, Pádua destaca que, além da expansão da área plantada, existe a previsão de 30 novas usinas que entrarão em operação. Já as exportações deverão apresentar uma queda. Do total produzido, 12% vão para o mercado externo, ante 14% em 2007 e 21% em 2006.
“Nossas exportações dependem muito de oportunidades de negócio e bolhas de mercado. Um ano é bom para a Índia, outro ano para os Estados Unidos, não existe mercado cativo. Mas os únicos países com escala de ETANOL são o Brasil e os EUA, que produzem acima de 20 bilhões de litros”, explica Pádua.
A CNA destaca, contudo, que o mercado ainda não respondeu ao otimismo esperado dos industriais do setor sucroalcooleiro. A oferta, diz a entidade, está maior que a demanda, o que provocou queda nos preços da cana, do álcool e do açúcar. Isso prejudica, especialmente, os produtores independentes.
“A baixa remuneração da cana que vem ocorrendo ao longo dos anos tem provocado um processo de diminuição dos produtores independentes na produção total de cana-de-açúcar. Atualmente vivendo em um momento de crise, esses produtores se esforçam para continuar na atividade e vêem em um futuro cada vez mais distante a sua participação no sucesso esperado do setor sucroalcooleiro”, diz o trecho de uma nota técnica da CNA.
O Globo