Pecuária leiteira vive período de preço histórico

0

 


O leite deixou de ser um produto barato tanto no Brasil como no mundo. Tida como uma atividade pouco rentável nos últimos anos, a pecuária de leite começa um novo ciclo de crescimento, impulsionada por patamares de preços mais elevados.


Oferta menor que a demanda aqui e no exterior explica a virada na atividade, que começa a absorver maior volume de investimentos. Só neste ano, o preço do leite longa vida integral subiu mais de 60% entre janeiro e agosto no varejo. No mesmo período, a inflação ao consumidor aumentou 2,72%, segundo o Índice de Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.
O produtor recebeu no mês passado R$ 0,76 por litro de leite, o maior valor médio mensal desde 1994, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Esse preço reflete a cotação média em sete Estados e desconta a inflação no período. O valor cobre o custo de produção, que varia entre R$ 0,58 e R$ 0,61 por litro. Entre janeiro e agosto, a cotação média recebida pelo pecuarista subiu 50,8%. Foi a maior variação registrada nesse período em dez anos, observa o pesquisador do Cepea, Gustavo Beduschi.
No mercado internacional, o cenário não é muito diferente. A tonelada de leite em pó, que valia entre US$ 1,9 mil e US$ 2,1 mil em dezembro de 2006, hoje oscila entre US$ 5,2 mil e US$ 5,4 mil. “É a maior cotação de todos os tempos”, afirma Rogério Marcus Wolf, coordenador de Produção Pecuária da Cooperativa Castrolanda, que fica em Castro, no Paraná.
“Mudou a conjuntura do leite no mercado internacional”, observa o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Rodrigo Alvim. Ele argumenta que vários fatores contribuíram para isso.
O pano de fundo, explica Alvim, é o crescimento do consumo mundial, que nos últimos quatro anos tem aumentado 4% ao ano, em média. No Brasil, ele estima um acréscimo de 2% neste ano. A demanda está sendo puxada pelo ganho de renda. Países em desenvolvimento do norte da África e do leste europeu, assim como a China passaram a consumir mais leite. “A China está fazendo um programa para aumentar o consumo de produtos lácteos ”
Com a elevação dos preços internacionais, Alvim observa que a União Européia (UE), responsável por 35% do mercado internacional de lácteos, retirou o subsídio ao leite neste ano. Paralelamente, a sua produção estará mais voltada para o consumo doméstico para atender o abastecimento de 12 países que entraram para o bloco.

Mudança de patamar:
A seca que atingiu a Oceania afetou importantes produtores, como a Austrália e a Nova Zelândia. Na Austrália, a queda de produção é da ordem de 10%, diz Alvim. Na Nova Zelândia, que detém cerca de 30% do mercado internacional, o aumento da produção é de 1%. Na Argentina, além das inundações que reduziram a produção, as exportações foram taxadas para controlar a inflação. “Se a produção crescer nos Estados Unidos, será em torno de 1%. Além disso, o custo de produção aumentou naquele país, porque o milho ficou mais caro em razão da agroenergia.”
Para Alvim, o patamar de preço do leite mudou. Ele não acredita que a cotação internacional fique nos atuais US$ 5 mil por tonelada. “Mas certamente o preço não voltará para a faixa de US$ 2 mil”, prevê.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Leite Longa Vida, Laércio Barbosa, faz uma análise semelhante. Para ele, o preço do leite “subiu um degrau”. Mas pondera que, em razão do próprio estímulo do preço, a produção nacional cresceu 25% entre julho e agosto, antecipando a safra. A indústria, diz ele, reduziu em 40% os preços nos últimos 40 dias e já começam a aparecer promoções no varejo. Dificilmente, porém, o consumidor vai encontrar um litro de leite vendido nos supermercados por menos de R$ 1,50, prevê.


 


 


 


Correio do Estado

Compartilhar:

Deixar um Comentário