Quando o assunto é matéria-prima para produção de biodiesel, o Brasil sai na frente. O País tem mais de 20 fontes – vegetais e animais – que podem ser aproveitadas e transformadas no combustível mais comentado do momento. O mercado também tem espaço e o público consumidor pode crescer significativamente. As declarações são do engenheiro químico da Petrobrás, Carlos Najib Khalil, que esteve em Londrina (PR) essa semana para participar do 5º Encontro Brasileiro de Ecologia Química, promovido pela Embrapa. Ele comentou sobre os conceitos de biodiesel e as tecnologias pertinentes à sua produção.
Segundo o engenheiro, a cadeia produtiva do biodiesel é tão vasta quanto a do álcool e pode envolver os grandes e pequenos produtores. “Pode produzir o combustível quem tiver estrutura. Os agricultores familiares, por exemplo, podem participar de uma parte da cadeia produtiva”, citou Khalil, destacando a produção da matéria-prima nas pequenas propriedades.
O importante, conforme ele, é pensar num processo com boa tecnologia em toda a cadeia produtiva, desde o cultivo dos grãos de oleaginosas até o procedimento industrial nas usinas de biodiesel. O engenheiro destacou que para uma produção sustentável é preciso pensar o início da cadeia, contemplando grãos com maior teor de óleo, aumentando a área cultivada e melhorando a tecnologia. Acima de tudo, é fundamental um estímulo do governo, uma política pública de isenção fiscal para que, principalmente, a produção chegue ao consumidor a um preço acessível.
Quanto à matéria-prima, acrescentou o engenheiro, o Brasil não tem com que se preocupar, pois o “cardápio é grande e variável”, e bem distribuído: no nordeste, por exemplo, o cultivo maior é de mamona, palmáceas, dendê; no sul o foco é a soja, um pouco de girassol e ainda pode agregar a mamona. “O interessante é que o biodiesel não é feito de um único óleo, é possível fazer um “bland”, uma mistura entre os diversos óleos”, afirmou o engenheiro. A mistura pode acontecer inclusive entre o material vegetal e o animal.
Khalil frisou que o Brasil tem grande potencial produtor se comparado com outros países – atualmente produtores de biodiesel – como a Alemanha que só conta com a canola, a França com o girassol e os Estados Unidos com a soja.
Mercado para o biodiesel também não é preocupação, conforme o engenheiro. Ele comentou que o governo federal autorizou a mistura de 2% do biodiesel no diesel, mas a quantidade de biodiesel produzido representa apenas 1,4% do volume de diesel. “Claro que tem que se respeitar os limites: ou mistura 2% ou 0%. Mas dá para perceber que ainda não se produz o suficiente. E mercado comprador tem”, disse.
Conforme o engenheiro da Petrobrás, o governo tem trabalhado políticas de incentivo para produção de biodiesel. Existem ofertas de créditos rurais para a produção de oleaginosas, com juros mais baixos. Além disso, segundo ele, o governo tem defendido a produção cativa, na qual o pequeno produtor planta oleaginosa e produz o biodiesel para utilizá-lo dentro da propriedade, com limite de até 10 mil litros mensais, sem poder comercializá-lo. No momento em que se sente capaz, o produtor pode se candidatar na Agência Nacional do Petróleo (ANP) para tentar produzir o biodiesel comercial.
Folha de Londrina