Mundo ainda tem 1,6 bilhão de pessoas vivendo sem eletricidade

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Ao exigir dos países ricos um compromisso efetivo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o Pnud traça um quadro dramático da desigualdade global na poluição – e, não por coincidência, no desenvolvimento econômico e na qualidade de vida dos países.


 


O relatório diz que 1,6 bilhão de pessoas no mundo não tem acesso à energia elétrica. E faz comparações extremas: um arcondicionado nos EUA emite mais CO2, ao longo de um ano, do que um morador do Afeganistão ou do Camboja durante sua vida. E um lava-louças típico de lares europeus é mais poluente que três etíopes juntos.


 


Na África Subsaariana, só um quarto da população usa serviços modernos de energia. E o progresso, no mundo, tem sido lento. No ritmo de melhoria de acesso à eletricidade, 1,4 bilhão continuará excluído em 2030. “A mudança climática talvez seja o maior desafio do século XXI, mas um desafio igualmente urgente e mais imediato é prover energia a custos acessíveis aos mais pobres do mundo”, diz o texto do Pnud.


 


O difícil será conciliar acesso à energia com menos poluição. O relatório alerta que, se os países em desenvolvimento tivessem o padrão de emissões de EUA ou Canadá, seriam necessários nove planetas para absorver o CO2 na atmosfera.


 


Com preço alto, famílias não conseguem pagar conta de luz No Brasil, o serviço de eletricidade é, em tese, quase universal.


 


A rede chega a 97,2% dos lares. Mas o preço deixa famílias excluídas ou as empurra para a clandestinidade. Nos bairros pobres de Recife, era comum ver casas com instalação elétrica, mas iluminadas por candeeiro.


 


Hoje, quem não pode pagar a conta de luz recorre ao “gato”. A Ilha de Deus fica a 235 passos do continente. Uma pequena ponte de tábuas soltas é o acesso para as 390 famílias que moram naquele amontoado de terra no meio do Rio Beberibe. É o pior índice de desenvolvimento humano da cidade. Há três dezenas de casas de alvenaria e o resto é de taipa, muitas suspensas sobre o mangue.


 


É numa palafita que mora Maria Aparecida de Araújo, de 38 anos. Em dois cômodos, vivem ela, o marido, pescador, e as duas filhas adolescentes. A renda média mensal da família gira em torno de um salário. A conta de energia estava em R$ 140 – estranhamente alta para quem só tem uma TV, um rádio, um ventilador e um pequeno freezer, além de uma lâmpada de 15 watts para iluminar todo o lar.


 


A família foi obrigada a decidir: luz ou comida. Em pouco mais de um ano, a dívida com a concessionária de energia atingiu R$ 1.582. Veio o corte. Nem o peixe, que garante o sustento da casa, podia ser conservado.


“A conta de energia está errada. A gente reclamou, mas nunca veio ninguém. A gente precisa viver”, diz Maria.


 


Enquanto ela recorre ao “gato”, 2,5 bilhões de pessoas no mundo dependem de biomassa (lenha, carvão ou esterco animal). É assim com 80% da população da África Subsaariana e mais da metade dos chineses e indianos. O esterco é usado até para cozinhar, com riscos à saúde.


 


O Globo

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