Governo federal já estuda medidas para desestimular a demanda por este tipo de combustível. Mesmo fazendo coro com o discurso do governo, que prega a inexistência do risco de desabastecimento de gás no País, o ministro de Minas e Energia, Nelson Hubner, afirmou ontem que não aconselharia novas conversões de carros para o uso de gás natural veicular (GNV). Segundo o ministro, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu esforços para que fosse garantido o fornecimento do combustível a quem já investiu na adaptação de seu veículo. Mas, ainda de acordo com Hubner, o governo estuda a adoção de medidas para desestimular a expansão da demanda por gás.
“Não poderíamos abandonar aquelas pessoas que por boa fé transformaram seus veículos para rodarem a gás. O governo tem uma responsabilidade com essas pessoas”, declarou Hubner, negando que em qualquer momento o governo Lula tenha incentivado o consumo de gás natural por veículos ou por indústrias. Para o ministro, o estímulo a essa demanda foi resultado de políticas adotadas pelos governos estaduais, que teriam promovido incentivos fiscais para estimular a conversão de carros. E só voltará a acontecer à medida que houver garantia de expansão do fornecimento do combustível.
“A gente pode ter uma política no sentido de, pelo menos, não expandir muito fortemente a questão do GNV. É uma alternativa que está sendo estudada. Nunca foi prioridade nossa o desenvolvimento da indústria de GNV. O Rio de Janeiro foi um dos exemplos citados por Hubner. Durante a gestão de Rosinha Mateus, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) cobrado no Estado passou a ter desconto de 75% para quem tivesse carro movido a GNV. O incentivo é válido até hoje.
“Não posso definir pelos Estados aquilo que eles gostariam de fazer. Só o que queremos é que tudo o que for feito de expansão de demanda esteja sempre amarrado em contrato. Se estiver todo mundo contratado bonitinho, não teremos crise”, acrescentou. Mesmo assim, Hubner afirmou que o governo federal pretende definir, junto com Estados e distribuidoras, as prioridades para o uso de gás.
No topo da lista estão as usinas termelétricas, que servem de segurança para o fornecimento de energia quando os reservatórios das hidrelétricas estiverem vazios. Depois viria o fornecimento de gás para a indústria e, por último, para os postos de combustível. O ministro ainda garantiu que o consumidor final não sofrerá com aumento de tarifas de energia por causa da crise.
A demanda para a utilização do gás como fonte de energia foi fomentada logo após o apagão, enfrentado na época do governo de Fernando Henrique Cardoso, que decidiu construir o gasoduto Bolívia-Brasil e termelétricas como uma espécie de seguro para garantir energia em épocas de seca, quando os reservatórios das hidrelétricas ficam baixos. O problema é que muitas indústrias e donos de automóveis converteram seus parques fabris e motores para o uso de gás. Mas faltam investimentos na Bolívia para garantir o fornecimento. Por isso, a Petrobras decidiu voltar a investir no vizinho.
O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, também desaconselhou os motoristas a converter seus carros para gás natural. “O uso de gás natural em veículos não é o melhor uso. Não é eficiente”, afirmou Gabrielli ontem em Brasília. O presidente da Petrobras disse que não foi a empresa que incentivou o aumento do uso do gás como combustível de automóvel, mas sim as distribuidoras privadas para as quais fornece combustível.
Gazeta Mercantil