Depois de o preço do frango na exportação ter atingido em agosto o valor médio recorde de US$ 1,51 por quilo, os frigoríficos brasileiros estão perto do limite da capacidade de repassar o aumento dos custos do milho para o produto final. A avaliação é do presidente interino da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Christian Lohbauer, que participou ontem, em Porto Alegre, do 30º Congresso Latino americano de Avicultura.
Influenciado pela alta nos EUA devido à demanda por etanol e pelas exportações para a Europa, o preço do milho subiu 43,46% desde 27 de junho passado, segundo o indicador Cepea/Esalq, e era cotado a R$ 27,58 ontem. Até agora, conforme Lohbauer, a elevação foi transferida para o frango. Daqui em diante, porém, o espaço para o repasse já não é muito grande, avalia.
Segundo o diretor de relações internacionais da Sadia, José Augusto Lima de Sá, as empresas terão de continuar reajustando os preços, mas a dificuldade cresce porque regiões como Europa e Oriente Médio preservam mecanismos de proteção que beneficiam os produtores locais frente aos concorrentes externos.
A Sadia tem caixa para manter estoques maiores de matéria prima e se defender de oscilações bruscas de preços, mas o “preocupante”, de acordo com Lima de Sá, é que as pequenas e médias indústrias, que fazem compras de curto prazo, começam a ficar sem margem e podem provocar um efeito nocivo sobre a cadeia, a começar pela redução dos alojamentos. O executivo evitou defender a adoção de restrições à exportação de milho, mas defendeu que o “melhor” para o país seria vender carne em vez do grão.
Conforme Lohbauer, a elevação dos custos não afeta a previsão de pelo menos 3 milhões de toneladas e US$ 4 bilhões em exportações de frango neste ano, com crescimento de 10,5% e 25% sobre 2006, respectivamente, mas pode reduzir a rentabilidade das empresas na medida em que diminuem os espaços para repasses de preços. Ele também prevê um cenário “bom” em termos de demanda mundial no ano que vem, mas com uma “incógnita” em relação às margens devido aos comportamentos do milho do câmbio.
Lohbauer espera ainda que em 2008 o país consiga finalmente, depois de dois anos de negociação, iniciar as vendas para a Malásia, o que abriria as portas para outros países muçulmanos que exigem o abate “halal” (segundo a tradição islâmica). Uma missão do governo malaio deve visitar onze fábricas brasileiras de oito empresas até o fim do ano e habilitar algumas delas, diz.
A Malásia consome 900 mil toneladas de carne de frango por ano, e os embarques brasileiros devem se limitar a 5 mil no primeiro ano. Mas o mais importante, diz Lohbauer, será a oportunidade de chegar a mercados como Indonésia, com consumo de 1 milhão de toneladas por ano , e Filipinas (600 mil).
Valor Econômico