Consultar a previsão do tempo elaborada pela Equipe de Meteorologia do Incaper, contar com a experiência e pedir a São Pedro que trouxesse chuva na hora certa. Até pouco tempo atrás era assim que seu Geraldo Gon definia quando e durante quanto tempo irrigar a plantação de café. “Tinha que ligar a bomba para captar água do rio e encher o reservatório. À noite, ligava a irrigação e deixava molhando porque fica mais barato com a tarifa verde. Tinha que fazer de dois em dois dias, duas horas por dia em cada local”, disse o filho dele, o também produtor rural Arthur Gon.
Pai e filho vivem na comunidade de Santa Joana, distrito de Itapina, em Colatina, município da Região Noroeste do Espírito Santo. Aos poucos, eles começam a mudar a rotina de irrigação no cafezal com a ajuda do irrigâmetro. Um pequeno equipamento desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) foi instalado pelo Comitê da Bacia do Rio Santa Maria do Doce, em parceria com o Incaper, bem perto da casa da família Gon. A leitura do irrigâmetro é feita diariamente, sempre no mesmo horário. O aparelho mede a evapotranspiração (relação entre a evaporação do solo e a transpiração da planta), e indica quantas horas de irrigação são necessárias para garantir água suficiente ao bom desenvolvimento da plantação.
O equipamento ainda está em fase experimental no Espírito Santo. Porém, resultados em outros Estados do país indicam que ele cumpre o objetivo de promover a otimização do uso da água, auxiliando o produtor a decidir quando e quanto irrigar. O início dos trabalhos em território capixaba deu-se a partir de uma criteriosa análise do solo em cada uma das dez propriedades rurais onde o irrigâmetro foi instalado. “A análise foi fundamental para ver quanto de água aquele solo consegue segurar. Além de calibrar o equipamento de acordo com o solo existente em cada propriedade, foi levado em conta também o sistema de irrigação que o produtor tem e o tipo de produto que ele cultiva, já que plantas diferentes têm necessidades diferentes de água”, explicou César Santos Carvalho, engenheiro florestal do Incaper e secretário executivo do Comitê. Dessa forma, pode-se ter o controle da água irrigada em qualquer cultura, solo ou clima e sob qualquer projeto de irrigação.
Atualmente, 10 irrigâmetros estão instalados em propriedades rurais de Colatina. Outros 03 já têm lugar certo para instalação, e mais 15 propriedades devem ser contempladas com o equipamento ao longo deste ano no município. Simples e prática, a tecnologia não exige cálculos elaborados nem conhecimento técnico específico. Uma escala de cores facilita a visualização: a marcação em azul representa solo encharcado. Verde, indica que o solo tem água suficiente, e que ainda não é necessário acionar a irrigação. Amarelo sugere atenção, e vermelho aponta necessidade urgente de irrigar a lavoura.
Antes da instalação do irrigâmetro, seu Geraldo chegou a arriscar um palpite considerando a escassez de chuva na região: “Acho que o aparelho vai indicar que eu preciso irrigar mais. Eu molho de dois em dois dias, deve ser pouco”. Mas bastou olhar a planilha onde estão registradas as últimas leituras do equipamento, para o produtor constatar que conseguiu economizar água e energia. Em 20 dias, o sistema de irrigação só foi acionado por duas vezes. Porém, mais do que reduzir o consumo, o irrigâmetro garante um benefício ainda mais valioso: a preservação dos recursos naturais.
Os irrigâmetros estão entre as soluções tecnológicas desenvolvidas e/ou implementadas pelo Incaper que geraram ganhos ambientais ao Espírito Santo. O tema está publicado no Balanço Social 2015 do Incaper, disponível para download em: http://www.incaper.es.gov.br/balanco_social/REVISTA_Balanco_Social_2014.pdf
Juliana Esteves