A manifesta disposição da União Européia de restringir ainda mais a importação de carne bovina brasileira deve incluir o fim da habilitação sanitária automática das unidades frigoríficas situadas em zonas autorizadas e a suspensão temporária do abate de bois originários de confinamentos. Nos bastidores, o Ministério da Agricultura já está preparado para enfrentar essas eventuais limitações, conforme apurou o Valor.
A imposição de uma “cota branca” para os embarques brasileiros, avalia-se no governo, deve passar pela adoção da obrigatoriedade de habilitação dos frigoríficos exportadores por auditores europeus. O modelo, visto como um retrocesso na relação comercial bilateral, é adotado por alguns parceiros do Brasil, como Rússia e México, também em outros produtos.
“É protecionismo, mas pode atender aos interesses internos deles”, disse um dirigente do ministério. Dessa forma, a UE reduziria o volume exportado por meio da limitação das autorizações a poucas unidades industriais. Isso abriria espaço no bloco para absorver mais produtos ingleses e irlandeses, o que reduziria a forte pressão política dos pecuaristas daquela região. Além disso, seria um sinal importante de ampliação do rigor sanitário aos fornecedores e consumidores da UE.
Descontentes com os precários controles adotados por algumas empresas de confinamento de bois, os europeus também devem impor restrições ao gado originário desse sistema de criação. Das 9 milhões de cabeças atualmente registradas no sistema de rastreamento de bovinos (Sisbov), quase 2 milhões estão localizadas em aproximadamente 25 confinamentos.
O “aperto” poderia ser a aplicação da regra do prazo mínimo de permanência do gado no estabelecimento antes do abate – são 90 dias nas zonas habilitadas e 40 dias na última propriedade autorizada a exportar. Ou seja, quando entrar um animal novo no confinamento, o prazo seria zerado. Isso inviabilizaria a compra desse gado pelos frigoríficos habilitados a vender à UE.
O arrocho contra os confinamentos estaria embasado no relatório da recente missão veterinária européia, que esteve por 14 dias no Brasil. Em uma companhia, os auditores afirmaram ter encontrado indícios de “bois fantasmas”, sem registro no Sisbov ou sem a devida baixa na base de dados. Também disseram ter flagrado brincos do Sisbov de outro Estado, não-habilitado para exportar gado à União Européia. “Eles viram que não há garantia de 100% nesse sistema de criação”, reconheceu uma fonte do ministério.
Valor Econômico