O governo brasileiro ainda não aprovou a regulamentação do decreto para produtos orgânicos – que há dois anos tramita em Brasília, sem prazo para sair do papel. Mesmo assim, as exportações desses produtos fecharão este ano com alta de 15% em relação a 2006, atingindo estimados US$ 21 milhões. Os números foram divulgados ontem pelo Projeto Organics Brasil, parceiro da Apex (Agência de Promoção às Exportações) responsável pela venda de orgânicos no exterior.
É uma espécie de tapa de pelica nas autoridades brasileiras, que empurram a questão de ministério para ministério sem conseguir livrar-se de tecnicalidades. A regulamentação rápida dos orgânicos foi, inclusive, promessa de dois ministros da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto, e seu antecessor, Roberto Rodrigues.
A falta de empenho político para um setor que cresce a olhos vistos no resto do planeta é espelhada nos números. Não há dados confiáveis no Brasil. Sabe-se que os orgânicos movimentaram US$ 33 bilhões no mundo no ano passado, e devem fechar em US$ 40 bilhões em 2007. No Brasil, o Ministério da Agricultura estima que o movimento esteja na casa de US$ 200 a US$ 250 milhões.
“Não sabemos de onde tiram isso. Mas se é o ministério falando, não contestamos”, diz Ming Liu, gestor do Organics Brasil.
Esses números são vistos com desconfiança por quem acompanha de perto o setor porque não existe hoje o monitoramento das vendas no mercado interno. Os poucos números disponíveis atêm-se ao mercado externo.
Ming fala pelas 42 empresas que pertencem ao projeto, de um leque que vai de produtos extrativistas a cosméticos, e que, segundo as estimativas, venderão outros US$ 26 bilhões em 2008.
Desde que criou a denominação “orgânicos” em sua lista de exportações, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) contabilizou 26, 3 toneladas enviadas ao exterior, que equivaleram a US$ 15,1 milhões. O problema é que os exportadores não são obrigados a informar o governo quando seus produtos são orgânicos, daí a diferença nos valores embarcados.
Maria Beatriz Martins Costa, diretora do Planeta Orgânico, co-organizadora da Biofach América Latina (a maior feira de orgânicos do continente), se diz constrangida com a situação. “A Alemanha investiu ? 15 milhões em campanha de informação à população em 2001. Desde então, o mercado alemão deu um salto”.
Segundo ela, a ausência do decreto reduz a credibilidade do setor. “Os compradores nos questionam isso… parece que o governo não leva os orgânicos a sério. Isso atrapalha o comércio”, diz. “Mas essa situação também afeta a credibilidade do consumidor brasileiro que não sabe o que comprar. O que é orgânico, em qual selo confiar?”, questiona.
Por este motivo, a Organics Brasil resolveu fazer por conta própria a lição. O projeto, que conta com orçamento de R$ 8,5 milhões, está financiando o mapeamento de áreas e produtos certificados para exportação. “É um número que o ministério deveria estar atualizando”, alfineta Ming. Até fevereiro, ele deverá ter algumas respostas em mãos.
Valor Econômico