Os altos preços do milho no mercado interno e o temor de escassez do produto estão fazendo com que algumas tradings e cooperativas recomprem contratos futuros de exportação. A estimativa da Safras & Mercado é que 150 mil toneladas que deveriam ser embarcadas ficarão no Brasil. O volume ainda é pequeno diante de tudo o que o País irá exportar do produto. Espera-se que no ano-comercial os embarques somem 11 milhões de toneladas – até outubro foram cerca de 8 milhões de toneladas. Ontem, pelo segundo dia consecutivo a cotação do cereal bateu o maior valor desde 2003: R$ 29,13 a saca (60 quilos), segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP).
“Trata-se de um movimento natural diante da pouca disponibilidade interna do grão. Não é questão de valer a pena ou não financeiramente”, afirma Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado. Segundo ele, ainda não existem estimativas dos valores que estes contratos estão sendo recomprados.
A diferença de preço no porto e nas regiões consumidoras explica parte deste movimento. Ontem, em Paranaguá (RS) a saca estava cotada a R$ 27, enquanto em Campinas (SP) era de R$ 31, de acordo com dados da Safras & Mercado.
“O preço deu uma puxada forte nos últimos dias, o mercado interno está bastante aquecido e o estresse de clima pode estar comprometendo o milho futuro”, diz Leonardo Sologuren, da Céleres. De acordo com o analista, a entrada da nova safra pode atrasar por causa da estiagem. Segundo ele, os contratos da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) indicam este movimento de apreensão. Na sua avaliação, os meses de dezembro e janeiro vão ser mais críticos. Sologuren explica que o atual momento do grão é uma conjunção de fatores: mercado interno muito aquecido – devido às exortações de aves – os embarques do grão e a preocupação com o clima.
Na avaliação de Carlos Cogo, da Cogo Consultoria Agroeconômica, existe muito mais especulação sobre o preço que dados concretos. Ele lembra que o governo dispõe de cerca de 2,3 milhões de toneladas do cereal que podem ser vendidas a qualquer momento. “O que pode ocorrer é terminarmos o ano com os estoques ajustados. Mas hoje é muito mais uma quebra de braço entre o comprador e o vendedor”, argumenta. De acordo com ele, se o mercado interno está pagando mais que o externo, é natural o chamado movimento de washout. No entanto, ele acrescenta que é preciso ter cuidado com o volume recomprado para que o País não deixe de honrar compromissos e tenha sua imagem arranhada no exterior.
Gazeta Mercantil