As entregas de fertilizantes aos produtores rurais do Brasil deverão fechar 2015 com o primeiro ano de queda desde 2009, apontaram nesta terça-feira dados do setor, após vendas dificultadas pelo crédito apertado, gargalos logísticos e câmbio desfavorável.
A entregas acumularam recuo de 6,7 por cento de janeiro a novembro, ampliando a defasagem ante 2014, que chegou a 6,4 por cento no acumulado até outubro, informou a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em um relatório mensal.
Com entregas em novembro de 2,5 milhões de toneladas, o volume entregue nos onze primeiros meses do ano subiu para 28,18 milhões de toneladas, ante 30,22 milhões no mesmo período de 2014.
Tradicionalmente, as entregas em dezembro são as piores do segundo semestre, o que torna virtualmente impossível recuperar o mau resultado do ano.
O último recuo nas entregas havia ocorrido em 2009, quando foi registrada queda de 0,13 por cento.
No início de 2015, as indústrias já sinalizavam que o ano seria difícil, com a oferta de crédito para os produtores apertada por recursos mais caros nos bancos e maiores dificuldades para liberação dos recursos, em linha com os ajustes fiscais realizados pelo governo federal.
"Mas o crédito apenas foi o começo do problema", disse o analista Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica. "Isso gerou o segundo problema, que foi de logística. Começou a acumular encomendas e pedidos."
Segundo o consultor, os estoques remanescentes de 2014 eram relativamente baixos, o que levou as compras realizadas a partir do segundo semestre a serem fechadas com preços daquele momento, de forte valorização do dólar.
Cerca de 70 por cento dos fertilizantes consumidos no Brasil precisam ser importados, com cotações atreladas ao câmbio.
Em setembro, a consultoria Agroconsult chegou a estimar que os fertilizantes estavam 40 por cento mais caros no Brasil na comparação com um ano antes.
"O produtor sabia que estava há cinco ou seis anos adubando bem. Com os preços elevados, ele decidiu também reduzir um pouco a adubação", disse Cogo, lembrando que, num primeiro momento, é possível tirar vantagem do estoque de nutrientes acumulados no solo cultivado anteriormente.
Neste cenário, as importações de fertilizantes intermediários acumulam queda de 12 por cento em 2015, enquanto a produção nacional cresceu 4 por cento, segundo a Anda.