ESPECIAL – Pimenta do reino: o ouro negro capixaba

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As lavouras de pimenta do reino estão ganhando cada vez mais espaço nas propriedades rurais do Espírito Santo. De acordo com a Secretaria Estadual de Agricultura (SEAG), atualmente cultiva-se área superior a 2.400 hectares no Estado. Os capixabas são o segundo maior produtor e exportador do condimento no Brasil, atrás apenas do Pará.
 
A maior parte da produção encontra-se no município de São Mateus. Basta viajar pelo interior do município para constatar as enormes lavouras a perderem de vista. Segundo a SEAG, São Mateus tem hoje uma área plantada de mais de 1.900 hectares. O crescimento da produção no Estado deve-se principalmente, ao preço. Uma saca de 60 quilos está sendo vendida hoje por quase R$ 1.800,00. Por conta do alto valor, aliado ao baixo custo de produção, a pimenta já ganhou um apelido entre os produtores capixabas: ouro negro.
 
O produtor rural Aliques Lourenço começou a cultivar a pimenta no interior de São Mateus em 2009, e depois de 6 anos, a pimenta está valendo oito vezes mais. “Nós vendíamos por R$ 3,40 e hoje estamos vendendo por R$ 29,oo. O preço está melhor do que esperávamos”, afirma Lourenço, acrescentando que a média de produção por ano é de 3kg por pé.
Segundo a SEAG, só no ano passado o Espírito Santo exportou, principalmente para Alemanha e Estados Unidos, mais de 7 mil toneladas do condimento, o que gerou um volume de quase R$ 180 milhões e consolidou a pimenta do reino como o terceiro produto de exportação do agronegócio estadual.
 
Nos últimos anos, o consumo mundial de pimenta do reino vem crescendo a uma taxa média de 3%, com isso, por ser um produto comercializado no mercado internacional, a cultura oferece uma rentabilidade elevada, sendo uma excelente opção de diversificação para os produtores. “Eu cultivo 17 hectares de pimenta, junto com outros três irmãos, e a nossa intenção é aumentar a lavoura ainda mais”, revela a produtor Inácio Filho Zanelato, que faz o beneficiamento do condimento dentro da propriedade, na região de Santa Leocádia, em São Mateus.
 
A alta no preço da pimenta do reino está provocando uma migração de culturas e causando o aumento da área plantada no Norte do Estado.  O produtor Lourival Cesana, que tem uma propriedade na região de Nestor Gomes, em São Mateus, está erradicando grande parte da lavoura de café para plantar pimenta. “Hoje não existe outra cultura que dê tanta rentabilidade quanto à pimenta. Além do bom preço, a pimenta precisa de pouca mão de obra. O cultivo não tem muito trabalho e problemas com pragas”, explica Lourival Cesana.
 
O crescimento do cultivo da pimenta na região é uma preocupação para a Cooperativa dos Produtores Agropecuários da Bacia do Cricaré (COOPBAC). “Estamos temerosos quanto ao futuro. Hoje o preço da pimenta está bom, mas o futuro é uma incógnita. Nós estamos tomando algumas atitudes que venham a amenizar os impactos negativos, se houver alguma retração de preço”, afirma o presidente da COOPBAC, Erasmo Negris.
 
Visitas técnicas são realizadas no ES para troca de experiências sobre a atividade 
 
 
A cooperativa está buscando parceiros de pesquisa, para desenvolver novos clones que tenham maior longevidade e produtividade. “O objetivo é organizar a cadeia produtiva da pimenta, com parcerias de entidades de pesquisa e fomento, prevendo uma possível baixa da rentabilidade no futuro”, explica.
 
 
Custo
 
De acordo com o presidente COOPBAC, Erasmo Negris, o investimento inicial é de R$ 40 mil para formar um hectare de pimenta. “O investimento é alto e a cultura tem uma mortalidade precoce, de 2 a 6 anos, por isso o agricultor precisa estudar bastante a cultura antes de arriscar no cultivo. A cooperativa está de portas abertas para orientar os produtores”, esclarece Negris.
 
 
Erasmo Negris adianta que as plantas necessitam de tutores de madeira (de 2 a 3 metros de comprimento), o que encarece muito o custo inicial. No Espírito Santo, com a cultura do eucalipto em grande escala, existem várias empresas que comercializam tutores de madeira de eucalipto.
 
Outra alternativa adotada por alguns produtores da região foi adotar o sistema de espaldeiramento nos pimentais, e o custo de implantação fica entre R$ 7,00 a R$ 10,00 por pé.
 
 
Pesquisa para melhoramento genético
 
Para desenvolver variedades mais resistentes a doenças, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) iniciou um projeto de pesquisa em melhoramento genético da planta. Os experimentos estão sendo feitos na Fazenda do Instituto em Linhares. O projeto “Geração de poliploides e híbridos interespecíficos no melhoramento genético da pimenta-do-reino” é coordenado pelo pesquisador do Incaper Lúcio de Oliveira Arantes (foto), mestre em genética e melhoramento de plantas e possui financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes). De acordo com o pesquisador, um dos objetivos do projeto é obter genótipos que viabilizem a enxertia no intuito de se evitar os fungos de solo que mais afligem as lavouras de pimenta-do-reino, ou seja, Fusarium spp. e Phytophthora spp. “Também pretendemos possibilitar a inclusão dos genótipos obtidos como fontes de resistência em programas de melhoramento genético da cultura”, explicou Lúcio.
 
 
Para o pesquisador que coordena o projeto, o aumento da vida útil da lavoura, por exemplo, é um aspecto muito importante, pois dilui o alto custo de implantação além de aumentar significativamente a produtividade média ao longo dos anos. “Se considerarmos apenas o custo de implantação em condições de sequeiro, por volta de R$ 23,00 por planta e uma vida útil de 7 anos, chega-se a um custo de R$ 3,29/planta/ano. O incremento de apenas um ano de vida útil à lavoura poderia significar uma economia de R$0,42 por planta no custo de implantação. Pode parecer pouco, mas quando consideramos 2.300 hectares com 1.500 plantas por hectare, em média, isso pode representar uma economia de aproximadamente R$1,5 milhão, equivalente a R$630,00/hectare”, avaliou Lúcio.
 
Mas, o impacto na redução de custos da lavoura é ainda maior levando-se em conta a produção média obtida e a redução ou até mesmo não utilização de fungicidas. “Um dos resultados desse projeto, em um curto prazo, é obter genótipos que viabilizem a utilização de porta-enxertos imunes a alguns patógenos de solo, principalmente a fusariose”, relatou o pesquisador.
 
 
Pimenta no mundo
 
A produção mundial de pimenta do reino nos últimos anos variou entre 300 mil a 400 mil toneladas anuais, sendo o Vietnã o maior produtor mundial (responsável por cerca de 35%), seguido por Indonésia, Índia e Brasil.
 
 
Pimenta no Brasil
 
A pimenteira do reino foi introduzida no Brasil no século XVII pelos japoneses. Segundo o último censo do IBGE, em 2012 a produção brasileira foi de 43 mil toneladas em 19,4 mil hectares.
 
Destaca-se como produtores os Estados do Pará, Espírito Santo e Bahia, responsáveis por 75%, 15% e 9% da produção nacional, respectivamente.
 
Os municípios com maior produção são Igarapé-açu (PA), Tomé-açu (PA), São Mateus (ES), Jaguaré (ES), Ituberá (BA) e Prado (BA).

 
 
 

Matéria publicada na Revista Campo Vivo – edição 27 – Set/Out/Nov 2015

Redação Campo Vivo

 

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